terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Prova de concurso público para jornalista

Segue link para uma prova aplicada em 2008 em concurso público para o cargo de jornalista para a Universidade Federal do Ceará. Possui muitas questões interessantes sobre diversos assuntos relevantes para a profissão. São questões relacionadas ao clipping, texto, técnicas de reportagem, lead (lide), características da notícia, texto jornalístico e texto publicitário, assessoria de imprensa e muitos outros temas.

Também possui perguntas de nível superior sobre língua portuguesa. É uma prova muito boa para quem está estudando para passar em algum concurso, pois possui perguntas bem elaboradas e bem diversificadas.

Segue LINK PARA A PROVA

Segue LINK PARA O GABARITO

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Marketing político na época da ditadura

Você deve estar se perguntando "como assim?" Afinal, naquela época não foram realizadas eleições diretas e os presidentes não precisavam realizar campanhas eleitorais. Isso não significa que não houve estratégia de marketing político. Castello Branco e Médici utilizaram algumas estratégias de marketing que, como vamos ver, estão sendo praticada ainda hoje. Principalmente ao que refere-se aos esportes. 

Dando sequência às análises sobre o marketing político através da história do Brasil, hoje vou comentar sobre os presidentes Castello Branco e Emílio Médici.

Castello Branco
Vamos começar por Castello Branco - ou Castelo, encontro referências com as duas grafias, sendo que as fontes mais confiáveis grafam com dois eles - que deu início ao regime militar instaurado no Brasil. O presidente foi eleito sem que uma eleição oficial tivesse ocorrido, mas as fontes apontam para um quadro no qual o presidente concorreu com mais dois candidatos e obteve mais de 98% dos votos, em eleições indiretas.

Basicamente a postura de Castelo Branco foi mostrar ordem no país através do regime militar. Até aí nada de inovador, mas uma estratégia utilizada por ele que ainda é feita até os dias de hoje, foi conquistar personagens da mídia. Desta forma o presidente mantinha-se em evidência e demonstrava aproximação com o povo. Hoje essa estratégia é promovida por partidos políticos que recrutam personagens populares para tentar conquistar algum espaço. Além disso, o conceito de eleições proporcionais incentivam os partidos a este tipo de estratégia.

Hoje em dia é comum políticos de cargos eletivos tentarem passar uma imagem de popular e simples participando de programas de entrevista, cumprimentando artistas, comparecendo em eventos e shows - principalmente deputados e vereadores. Foi com a aproximação da mídia que ele conseguiu apoio da Rede Globo ao regime militar.

Em outra postagem sobre ele, já mencionei algumas informações adicionais. Para ler CLIQUE AQUI.

Médici
Já o presidente Emílio Médici utilizou mais ferramentas para passar a sensação de estar comandando o país ao progresso. Seus discursos nacionalistas eram sua marca. Ainda hoje é comum vermos candidatos com este tipo de discurso. Dizendo que tudo está bom, tudo está ótimo, discursos que só faltam dizer que o Brasil é a maior potência mundial. Aliás, não apenas discursos presidenciais, mais de governadores e prefeitos seguem este tom.

Por fim, o melhor. O presidente utilizava o futebol e, principalmente, a seleção brasileira como análogo do sucesso do Brasil Isso te parece familiar? Se hoje temos pessoas que utilizam a Copa do Mundo e as Olimpíadas para se promover, na ditadura o mesmo ocorria. O sucesso nos esportes era enfatizando como reflexo do sucesso do país em todos os setores.

Considerações finais
Como podemos ver, mesmo em épocas sem eleições diretas, os presidentes utilizavam recursos que ainda hoje são empregados no marketing político. Não estou aqui julgando ser correto ou errado. Não é esta a função deste texto, mas mostrar que existem muito mais nas entrelinhas que percebemos em um olhar inicial.


Políticos usarem figuras públicas para se promoverem e associar o sucesso do esporte ao sucesso da nação já eram estratégias do tempo da ditadura, que hoje continuam sendo utilizadas. Os discursos políticos modernos ainda resgatem modelos antigos para conseguir seus votos e passar ao povo a ideia de nação (esta ou município, que seja) forte. Como a história comprova, neste caso, o sucesso se repete e quanto isso permanecer estas estratégias serão utilizadas.

domingo, 17 de novembro de 2013

Uma pessoa tímida pode ser jornalista?

Está é uma das perguntas mais comum entre pessoas que desejam ser jornalista. Seja em época de vestibular, seja nos primeiros dias de aula, sempre existem alguns tímidos que não sabem se a timidez pode atrapalhar na profissão. Lembro-me dos meus primeiros dias de faculdade, e algumas pessoas, inclusive eu, que faziam esta pergunta aos professores. Hoje, na prática, vejo que, assim como em qualquer outra profissão, a timidez é um obstáculo superável por vários motivos. Um dos jornalistas esportivos mais conceituados da atualidade, Paulo Vinícius Coelho também precisou superar a timidez.

Considero a faculdade um fator essencial para desenvolver a profissão, pois aprendemos a superar essas dificuldades nos trabalhos desenvolvidos. Os jornais murais, informativos e trabalhos práticos nos ensinam a conviver com a rotina do jornalista.

Você precisa também saber que, na verdade, a maioria das entrevistas são individuais, o que deixa o diálogo mais informal, mas fácil de levar. É só você e o entrevistado. Não precisa ser afoito. Relaxe e comece com um assunto mais informal, como o tempo, um café ou coisa assim. As entrevistas coletivas ou em situações mais tumultuadas são poucas, se comparada com aquelas que você agenda por telefone. Aliás, muitas, hoje em dia, são feitas por telefone ou e-mail. 

Em primeiro lugar, não considero essa característica como negativa, muito pelo contrário. Dependendo da ocasião é um fator positivo. Mais tarde falo disso. O mais importante é você saber lidar com sua timidez e usá-la a seu favor. Falo por mim, que tenho um agravante, fico ‘vermelho’ com muita facilidade. Mas fui aprendendo a lidar com isso. Fazer apresentações, desde a época da escola, pensar em algo engraçado enquanto alguém fala sério ou ter que falar alto são situações rotineiras que me deixam ‘vermelho’. Aprendi a, em situações assim, relaxar, respirar devagar e falar pausadamente, para não falar besteiras. O resultado: nunca fiz perguntas taxadas de ‘idiotas’ ou confusas, pois a minha timidez sempre me impediu de falar sem pensar, o que é extremamente importante na profissão de jornalista. Já vi alguns colegas que falam pelos cotovelos, que não têm nada de tímido, fazerem perguntas ‘cretinas’, confusas e até que já haviam sido respondidas. Aí, você percebe que, normalmente, os afoitos é quem passam vergonha. Por isso, como falei, a timidez pode ser um ponto positivo, uma vez que ela te impede de falar sem pensar.

Pergunta inteligente não ofende
Outro exemplo que acho ridículo acontece em palestras e discursos, quando o jornalista pergunta algo que a pessoa já falou, ou sobre algo que já foi abordado na palestra. Acho perda de tempo, o entrevistado acaba saindo respondendo somente assuntos que ele já falou, portanto, sabia todas as respostas, e ninguém se atem a fazer perguntas que poderiam sanar dúvidas ou complementar uma informação. Mais uma vez, o jornalista que só faz perguntas por fazer, porque é ‘descontraído demais’ não faz um bom trabalho.

Além disso, com a prática, você vai aprendendo alguns ‘macetes’, como no caso acima de palestras e discursos. Se as informações passadas já são suficientes para o seu texto. Não há porque ficar na ‘nóia’ de ser obrigado a perguntar algo. No começo, achamos que somos obrigados a fazer perguntas porque somos jornalistas. Mas fui percebendo que dependendo do jornal onde trabalhamos, não adianta coletar informações desnecessárias. Podemos acompanhar as perguntas dos colegas, não é necessário ‘fabricar’ perguntas. Também já fui vítima disso no começo da profissão. No anseio de me sentir obrigado a fazer perguntas, fiz algumas muito tolas e desnecessárias, e percebi que estava fazendo papel de idiota. Era melhor ter ficado calado.

Não estou dizendo que você não deva fazer perguntas, mas só estou levantando a importância em pensar bem no que será perguntado, para não ‘colocar a carroça na frente dos burros’. Neste ponto a timidez é boa porque nos faz pensar bem antes de proferir uma pergunta inútil.

Ninguém é seu inimigo
Outra coisa que percebi com o tempo, é que existem jornalistas muito agressivos em suas perguntas. Fazem isso porque querem passar uma imagem de críticos ou incisivos, e acabam levando tudo para o lado pessoal, praticando um antijornalismo. Por exemplo, o jornalista que não gosta do prefeito (ou trabalha para jornal de oposição) só tem interesse em criticar e atacar o chefe do Executivo municipal. Não faz papel de jornalista e sim de oposição. É levado pela ‘lavagem cerebral’ dos proprietários do jornal. Isso é mais comum em cidades pequenas, onde os jornais são panfletos políticos. de qualquer forma, não seja levado a achar que fulano ou sicrano é seu inimigo. Ainda não vi jornalista ganhar destaque com atitudes assim.

Nunca tive a pretensão de fazer inimigos, bem como nunca fiz questão de fazer amigos com o jornalismo, mas posso me orgulhar de dizer que eu soube me desprender de ter que ser amigo ou inimigo, tenho que ser jornalista. E o que isso tem com o fato de ser tímido? Como nunca pensei em ser ‘o jornalista’ crítico e polêmico, sempre realizei minhas entrevistas com calma, pensando bem nas perguntas e em como fazê-las. Utilizando um tom de voz mais calmo e demonstrando que você não está levando para o lado pessoal, o entrevistado fica mais à vontade para responder sua pergunta. 

Certa vez, em minha cidade, um caso polêmico ocorreu entre os vereadores. Na sessão seguinte, foi aquele frenesi, um monte de jornalista apontando os microfones, fazendo exigências e fazendo perguntas de forma agressiva. Resultado, todos os entrevistados saíram calado. Mais tarde, sozinho, fui em alguns gabinetes e explique quais informações eu precisava. Com calma, serenidade e educação. Para resumir, consegui tudo o que precisava. Aliás, não apenas neste episódio, mas nunca me foi negado uma entrevista, pois aquelas pessoas sabiam que eu não estava ali para ‘crucificar’ ninguém, apenas trabalhava.

Obstáculo não. Aliado
Para terminar, gostaria de ressaltar que a maioria dos profissionais que conheço são pessoas tímidas, ou pelo menos, não ‘fanfarrões’. Estes aliás, vivem dando ‘barrigada’ por quererem ser polêmicos.
Se você quer seguir na profissão vai perceber que a timidez não é um obstáculo, mas sim um aliado.
Se você, ainda assim, acha difícil ser jornalista tímido, saiba que existem várias funções para um jornalista. Você não precisa ser necessariamente um repórter de campo, embora seja, na minha opinião, um passo importante na profissão.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Objetividade como escudo

Em seu ambiente de trabalho o jornalista sofre pressão de muitas formas ao escrever uma matéria. A começar pelos seus chefes, incluindo aí os interesses comerciais e políticos intrínsecos. Posso citar também os interesses das próprias fontes, por isso a importância de fugir do denuncismo e do jornalismo declaratório, que se resume a ouvir uma ou outra fonte sem buscar evidências e provas.

Eu já sofri muito com interessados em prejudicar alguém tentando influenciar na matéria, não apenas no conteúdo, mas na forma que as informações são apresentadas. Conforme Gaye Tuchman, a noção de objetividade de um jornalista pode ser percebida na forma, nas relações inter-organizacionais e no conteúdo.

O "escudo da objetividade" não é um privilégio do jornalista. Médicos, sociólogos e advogados, por exemplo, também o usam. O médico ao fazer um diagnóstico, se baseia em dados e passa seu ponto de vista baseado ao máximo em informações. O jornalista, quase sempre, tem um dia apenas para colher as informações, sintetizá-las e apresentar seu trabalho, sempre pensando na melhor forma de fazer tudo isso de maneira considerada aceitável pelos seus patrões, que, aliás, normalmente não são poucos.

Usar a objetividade é mais que um dever profissional é questão de "sobrevivência", e olha que na cidade que moro, é questão de sobrevivência mesmo!!! Para se blindar contra possíveis ataques, existem, basicamente, quatro itens que compõem a armadura do jornalista.

Quatro elementos da objetividade
Apresentar fatos conflitantes é sempre importante. Podemos dizer que é o conceito básico do jornalismo. Dizer que uma ponte será construída pode parecer propaganda política. Neste caso, apresentar possíveis modificações negativas ou alto custo, por exemplo, pode deixar a matéria menos 'panfletária'.

Documentos, imagens ou vestígios podem funcionar como provas auxiliares, que dão peso ao texto, deixando a informação "dura" o suficiente para ser considerada publicável.

As aspas, podem ser um grande amigo do jornalista, mas pode ser também um grande inimigo. Ao colocar palavras sob a responsabilidade de alguém, o jornalista desaparece do texto, mas o uso injustificado ou exagerado podem gerar um jornalismo de denuncismo. É muito cômodo colocar a fala de um e de outro e pronto. Sem análise, sem documentos, sem provas. Se um entrevistado diz que o fulano é corrupto, é preciso solicitar provas. Fazer matéria em cima de declarações é o que podemos chamar de imprensa marrom. Mostra um jornalismo tendencioso e que está disposto a prejudicar alguém a todo custo, nem que seja apenas com declarações de seus rivais.

Por fim, Tuchman menciona a estruturação. A forma como as informações são apresentadas também deve ser bem analisada pelo jornalista. Este assunto, aliás, é bem interessante e vou explorá-lo melhor em um próximo post. A estruturação conforme a hierarquia de importância das informações tem um forte apelo na apresentação da matéria. De todos os elementos da objetividade este é o que requer maior cuidado, pois a definição de quais informações são mais importantes que outras é um critério pessoal. Se mal utilizado pode ser subjetivo.

Estes quatro itens observados podem proteger o jornalista no exercício da sua profissão, evitando críticas das partes interessadas; São elementos que podem livrar o profissional de armadilhas impostas por chefes, fontes e até colegas de trabalho.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O lide (lead) e seus tipos

Uma das primeiras lições que aprendemos no curso de jornalismo é sobre o lide (lead, em inglês). Estamos nos referindo ao texto introdutório de todas as matérias. Não apenas na escrita, mas em todas as mídias. É o que deve chamar a atenção do receptor. Deve conter as informações essenciais da matéria. Também há quem classifique o lide como um gênero jornalístico, o mais comum.

Basicamente, diz-se que o lide deve responder às questões básicas: o quê, quem, quando, onde, por que e como. Também conhecido como os seis "Q's", apesar de 'como' e onde' não possuírem a letra, mas fica mais fácil aprender assim. Além disso, no inglês, esta técnica é conhecida como os seis W's (what, who, when, where, way e how). Evidentemente, que nem sempre é necessário que todas esses itens precisam ser respondidos. Também há ocasiões em que uma dessas informações seja irrelevante. Neste caso, não é necessário que ela esteja no lide. Pode estar no corpo do texto.

As duas funções básicas do lide são: informar e atrair o leitor. Um texto bem construído pode poupar muito tempo do leitor, que decidirá se continua a ler ou não. Além disso, em dias corridos como os atuais, evita que o leitor perca tempo lendo algo desnecessário, mas só descobre isso após ler toda a notícia. Por outro lado, faz que o leitor perceba que aquela notícia é realmente interessante para ele.

Técnicas
Não apenas no lide, mas até mesmo no título e no decorrer do texto, é preferível a utilização do texto direto, com verbo no presente do indicativo. O texto deve ser objetivo. Por exemplo: "O Brasil joga amanhã" e não "o Brasil jogará amanhã".

O primeiro parágrafo, ou no máximo os dois primeiros, devem conter as informações necessárias para que o leitor entenda do que está sendo informado. O texto restante é um aprofundamento para quem desejar obter informações mais detalhadas. É quase uma propaganda da própria notícia.

A ordem das informações não são as mesmas sempre. Evidentemente, mudam de acordo com a importância de cada notícia. Além disso não é necessário ficar 'bitolado' pelos seis Qs. Com o tempo, aprende-se a desenvolver o texto sem pensar tanto nessa questão.

Documentários, reportagens mais longas, e fait divers, não precisam seguir o lide tradicional por serem um gênero jornalístico mais leve (soft news).

Pirâmide invertida
Assim como o lide, a técnica da pirâmide invertida é uma lição básica do jornalismo. Lide e pirâmide invertida estão ligadas.

Esta técnica consiste em apresentar as informações mais importantes no início do texto. As informações supérfulas vão indo para o final do texto.

Alguns estudiosos de comunicação não acreditam ser esta a melhor maneira de apresentar uma matéria, mas o decorrer dos anos provam que esta é sim a melhor forma de desenvolver o texto jornalístico. Com esta técnica, os editores podem realizar os cortes necessários sem que o redator precise reescrever o texto.

No meu caso, inclusive, muitas vezes saí da redação sem que os editores tivessem lido meus textos. Mas sempre realizaram os cortes necessários sem precisarem reescrever tudo.

Posso dizer que, ao contrário do que é feito em livros e filmes, o climax de uma notícia deve estar no começo. Os pormenores ficam para o meio e final.

É indispensável que o jornalista domine essas técnicas para escrever. Ninguém fica duas ou três horas lendo jornais todos os dias (talvez a equipe de clippagem, mas isso é outra história). Mas muitos leem algumas partes de diversas matérias. Ler apenas o lide de muitas matérias, para a maioria, é melhor que ler uma ou outra matéria por inteiro.

O domínio da escrita também desenvolve o jornalista a captar as informações necessárias para cada texto, não perdendo tempo correndo atrás de informações que não serão publicadas.

Exemplos
Segue alguns exemplo de bons lides retirados do site do Estadão.

As mulheres se envolvem cada vez mais no tráfico e uso de cocaína e crack em São Paulo. Os dados, divulgados ontem pela polícia paulista, revelam que, das 980 pessoas presas em flagrante no ano passado, 229 eram mulheres. "Elas começam a fumar crack ou a cheirar cocaína em festas com os amigos ou namorados", revelou o delegado Fernando Vilhena. "Quando o fornecedor desaparece, passam a roubar e a fazer de tudo para conseguir a droga."

A que foi classificada como "a nevasca do século" nos Estados Unidos matou pelo menos 100 pessoas e bloqueou aeroportos, estradas e edifícios com uma camada de até 80 centímetros de neve. A tempestade obrigou as autoridades a fechar seis aeroportos e a declarar estado de emergência em seis Estados. Em Nova York, 18 pessoas ficaram intoxicadas pelo monóxido de carbono: o gelo obstruiu os canos de escapamento dos carros.

Exemplo de lide mal construído: 
Policiais de Osasco, na Grande São Paulo, esclareceram ontem o desaparecimento de Margarida Almeida de Souza, de 19 anos, filha de um empresário da cidade. No começo de março, ela saiu de casa para morar com o namorado Álvaro de Andrade Silva, de 23 anos, viciado em cocaína e maconha, e não deu mais notícias.

O Estadão recomenda que o trecho acima fosse escrito da seguinte forma:
Filha de um empresário de Francisco Morato, na Grande São Paulo, e desaparecida desde março, Margarida Almeida de Souza, de 19 anos, foi morta pelo namorado, Álvaro de Andrade da Silva, de 23 anos, em Miracatu, no Vale do Ribeira. Silva, preso anteontem por policiais de Osasco, alegou ter cometido o crime porque queria voltar a morar com a mulher e Margarida ameaçava denunciá-lo por causa do envolvimento dele com drogas.

O assunto não é tão simples como parece. Este BLOG, por exemplo, lista 32 tipos de lides.

Um exercício simples para aprimorar essas técnicas é pegar lides de grandes jornais e tentar reescrevê-los utilizando as mesmas informações, mas apresentando um texto diferente.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O caminho da notícia até o leitor

Sabe-se que uma matéria jornalística deve ser realizado com imparcialidade. Ouvir todas as partes e contruir uma notícia desprendida de pessoalidade. Já escrevi, pelo menos, dois textos interessantes sobre o assunto. Um fala que o jornalista relata a história, não a contrói. Outro texto fala das características da notícia. A apresentação da notícia como produto final tem um longo processo.

A informação que você vê um jornal na televisão, ou lê uma matéria nos jornais, revistas e sites, já passou por um longo percurso, o que nos faz perceber que a imparcialidade total não existe. Tudo começa pela simples escolha do que será notícia.

Pauta
A primeira fase de uma matéria é a pauta. Os diretores, chefes e jornalistas decidem quais matérias serão produzidas. Esta simples seleção já é um filttro. Decidir que vamos falar do Neymar e não do atleta da equipe brasileira de pentatlon moderno já é uma 'parcialidade'. Ao escolher uma determinada matéria a ser produzida, leva-se em consideração o impacto que terá em todos os interessado (stakeholders).

Um jornal de assessoria vai levar em consideração sempre a possibilidade de se criar uma imagempositiva do assessorado.

Colocar a pauta na agenda de matérias a serem produzidas também envolve recursos humanos. A logística de pessoas necessárias para a cobertura, como motoristas, fotógrafos, horários, e até mesmo as demais matérias pautadas para o dia.

Ângulo, prioridade
Depois, vem o enfoque da notícia. Podemos falar que mais uma rua foi recapeada, ou destacar os números gerais da administração pública neste tipo de serviço. Devemos decidir qual deve ser o espaço desta matéria na página. Se haverá foto em destaque, se vamos entrevistas só os moradores da rua, ou um representante da secretaria responsável.

Em campo
Ao sair para realizar a matéria, o jornalista se mune de infomrações e já vai traçando possíveis perguntas e levantamento de informações. Em campo, ele também seleciona as pessoas que ai entrevistar e as perguntas que serão feitas. Muitas vezes, as entrevistas não são realizadas todas no local. Sempre se percebe que uma entrevista com fulano ou beltrano pode deixar o texto mais 'rico'.

Em campo, muitas decisões são tomadas e o público não tem controle sobre o jornalista para saber por que ele selecionou este ou aquele personagem. Raramente todas as informações cabem em uma matéria. Por que resolver divulgar esta informação e não outra.

Vou dar um exemplo fictício de como uma mesma informação pode ter enfoques diferentes. Nos últimos dez anos a criminalidade aumentou em números absolutos, mas caiu proporcionalmente ao aumento da população. Antes, a cidade tinha 100 mil habitantes e aconteciam cem crimes por mês, ou seja um crime para cada mil habitantes. Agora, são 300 mil habitantes, e cento e cinquenta crimes por mês, ou seja, um crime para cada 500 habitantes. Podemos destacar o aumento de crimes ou podemos destacar que, proporcionalmente, os crimes diminuiram.

Edição e chefia
O jornalista escolheu as entrevistas que vai usar, os dados que vai publicar e escreve a matéria. Ainda existe o trabalho dos editores. Eles podem cortar informações, tirar falas ou reescrever algumas partes do texto para ficar conforme as exigências dos stakeholders (interessados no produto).

Mas ainda não acabou por aí. Depois de todas as possíveis modificações, os chefes de redação ainda podem escolher quais textos poderão ser publicados e quais podem ficar na gaveta (para ser publicada em outra data), ou até mesmo descartar matérias, que nunca serão publicadas.

Ainda é dado 'peso' ao escolher quais matérias serão destacadas, quais terão chamadas de capa e quais ganharão infográficos e fotos.

Imparcialidade?
Com tantos interessados em uma notícia fica impossível dizer que os veículos de comunicação são imparciais em todos os sentidos. Devemos tentar identificar quais as principais forças (stakeholders) por trás desse ou daquele jornal, canal de tv ou site, para evitar que nosso conhecimento de mundo seja manipulado por jogo de interesses.

O jornalista, por sua vez, deve sempre buscar desenvolver uma matéria com valor-notícia para o seu público, desprendido de suas convicções pessoais, dando ao público o maior 'poder' possível de interpretar as informações e chegar às suas convicções.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Melhores filmes e seriados sobre jornalismo

Tenho que dizer que não assisti tantos filmes sobre jornalismo quanto gostaria. Fiz uma lista com apenas cinco filmes legais. Por incrível que pareça, me lembrei mais de seriados que assisti e gostei, por isso, completei a lista com alguns seriados. São filmes e seriados que valem a pena investir um tempinho para ver.

Como estou muito tempo sem postar nada, decidi escrever um post mais light. Como eu disse, não tenho uma longa lista para oferecer, se você quiser recomendar algum filme, ou seriado, fique à vontade. Outro detalhe é que não sou especialista em cinemas, então não vou ficar falando de atuação, fotografia... Vou começar pelos filmes. Confira meu Top 5.

5. O âncora
Pode não ser um filme genial, mas como adoro comédia e o ator Will Ferrel, este foi o primeiro filme que me veio à cabeça quando decidi fazer esta lista. O filme retrata um vaidoso apresentador de um telejornal que fica com inveja quando uma mulher o substitui e começa a fazer mais sucesso, decidindo fazer notícias mais relevantes. Pode parecer bobo, mas é interessante porque mostra o ego do jornalista. Bom para combater a tentação de o jornalista se sobressair sobre a própria notícia.


Um dos clássicos mais conhecidos na história da televisão. Assisti este filme há anos e nem me lembrava de muita coisa. Mas é um filme bem legal que retrata a vida de um magnata do jornalismo que antes de morrer diz a palavra 'Rosebud' (a mesma palavra usada no jogo The Sims para ganhar dinheiro facilmente). Um jornalista tenta descobrir o que isso significaria.


A velha questão sobre liberdade editorial é colocada neste filme. A ideologia de uma redação independente de pressões externas é muito bem abordada aqui.


Eu adorei este filme porque mostra uma antiga questão polêmica sobre a profissão: o que é mais importante, experiência ou formação teórica? Um experiente jornalista, de uma grande redação, fica com aquela dor de cotovelo ao ver uma professora ensinando jornalismo em um curso. A professora, por sua vez, defende que o conhecimento na sala de aula vai preparar melhor aquelas pessoas para iniciar a carreira jornalística.


Um excelente filme sobre um dos, se não 'o', casos mais importantes da história da profissão. O caso Watergate foi muito bem retratado e achei o filme bem legal. é um filme obrigatório para todo estudante de jornalismo.


Seriados
Alguns bons seriados que abordam o jornalismo e valem uma busca pela internet. Alguns programas, como 30 Rock, que abordam mais o funcionamento de uma rede de TV do que propriamente do jornalismo foram deixadas de lado.

Este seriado, vencedor de um Emmy, é exclusividade para assinantes Netflix. O foco maior é na política, mas achei interessante o papel de uma repórter na trama. A jornalista, sem perceber, acaba sendo manipulada por um político, que acaba utilizando a vaidade e ganância da jovem jornalista para fazer o que lhe é mais aceitável.


Este seriado passa na HBO e mostra de forma inteligente e bem real o cotidiano de uma redação. O seriado resgate um pouco da credibilidade norte-americana, que vem caindo em desmérito há anos.


Acompanhei este seriado de comédia nos anos 90, pela Sony. Mostra a rotina de uma repórter que mudou de tablóide e levou para sua equipe dois colegas de trabalho. Ainda apresenta uma visão nostálgica do trabalho jornalístico, numa época que pouco se usava internet e celulares.

2. Murphy Brown
Este era um dos meus seriados favoritos. Lembro até que passava às sextas-feiras, se não me engano, depois mudou para às quintas. A personagem principal trabalha como âncora e mostra de uma forma bem divertida a rotina de um programa jornalístico de tv. A atriz principal, Candice Bergen, ganhou cinco Emmys neste trabalho.



Um dos melhores seriados que eu já vi na minha vida. Aqui, estamos falando de um seriado que mostra a rotina de uma rádio. Tem o locutor arrogante, a locutora 'política' e o empresário excêntrico. Lembro de um episódeo no qual o dono da rádio finge que vai dar a volta oa mundo de balão, mas é tudo filmado. Bem típico desses milhonários que não sabem como gastar dinheiro e ainda aparecer na mídia. Muito bom.


Mesmo quem não tem interesse pela área, pode assitir este filmes e séries. São produções muito boas, com personagens marcantes e histórias bem criativas.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Características de uma notícia

Já falei um pouco sobre o que é necessário para se tornar jornalista. Hoje vamos dar continuidade ao assunto falando sobre os critérios de noticiabilidade. Como podemos identificar uma informação como de interesse jornalístico de outra que não seja.

Como vimos no texto passado, um dos primeiros passos para o estudante de jornalismo, ou foca (jornalista novato) é saber identificar a informação dura e a mole. Isso é muito importante, pois por mais interessante que uma informação possa ser, se for ‘mole’, não há como torná-la pública. Não é função do jornalista espalhar boatos.

Existe uma série de características que tornam uma informação em notícia. Claro que no dia a dia ninguém fica com uma listinha checando item por item, mas com esse conhecimento fica mais fácil tomar decisões rápidas e assertivas.

Captando informações
Como já escrevi, toda informação precisa ter uma fonte. Seja uma declaração, uma entrevista, dados estatísticos, análises técnicas ou documentos. Nunca uma matéria pode ser publicada no ‘achismo’. “Se continuar jogando mal como ontem, o Brasil não terá a mínima chance de conquistar a Copa do Mundo”. Isso não é matéria jornalística. Pode ser uma coluna ou artigo, mas não matéria.

Os critérios de noticiabilidade podem sofrer leves diferenças de jornal para jornal, conforme sua linha editorial, mas o padrão é praticamente o mesmo.

Proximidade
Uma notícia é mais interessante quando existe maior proximidade com o público leitor. Para quem mora em Brotas, um acidente de carro na China, não é tão interessante quanto um acidente de carro em Brotas.
Certa vez, trabalhando numa rádio comunitária, tentei explicar isso para a proprietária, mas ela não achou certo. Claro! Ela não era jornalista. O resultado foi um trabalho desinteressante onde só repetíamos o que todo mundo já sabia. Não havia ‘furo’ porque é impossível dar uma novidade nacional em um veículo local. Se tivéssemos priorizado as notícias locais, poderíamos desenvolver uma programação dinâmica com entrevistas, debates e mesas redondas. Mas mantemos uma programação de ‘papagaio’ em nome da notícia nacional.

Um acidente aéreo no Japão, então, não é importante? Evidente que sim, mas as informações equivalentes são ‘desempatadas’ no fator proximidade.

Outro exemplo. Certamente, um carioca apaixonado pelo futebol vibra mais com os jogos do Campeonato Brasileiro do que com os jogos da Champions League da Europa, embora o torneio europeu seja mais prestigiado. Isso porque você vive no Brasil.

Atualidade
Acho que aqui as coisas são mais fáceis de entender. Quanto mais atual uma informação, mas interessante ela é. No entanto, é preciso uma observação. Uma descoberta recente sobre um acontecimento mais antigo entra no critério de notícia atual. Por exemplo, cobrir uma descoberta de documentos sobre o regime militar brasileiro na década de 70 é importante porque traz novas informações, até então desconhecidas. Se descobrirem um dinossauro no centro de São Paulo terá grande impacto noticioso. Em alguns casos, o importante é quando a informação veio à tona e não quando ela ocorreu.

Outro exemplo. Se foi descoberto que os dinossauros na verdade tinham seis patas, a informação é bem interessante e deve ser publicada, pois é uma informação nova.

Sujeitos envolvidos
Aqui estamos falando de proeminência social. A presença do prefeito em uma reunião é mais importante que a presença da maioria ali, inclusive a sua. Um astro do rock morto em um acidente de carro é mais noticioso que a morte de um desconhecido.

Isso também é fácil de perceber quando atores e atletas são assaltados. Na Virada Cultural deste ano, por exemplo, foi roubada a carteira do Eduardo Suplicy. O caso foi anunciado no palco, e logo a carteira foi devolvida. Se fosse comigo, ou contigo, aconteceria o mesmo? Evidente que não.

Casamentos, separações e traições de famosos é outra forma fácil de percebermos isso.

Pode-se dizer que este critério também é muito utilizado para nações e cidades. Assassinatos nos Estados Unidos são notícias com mais frequência que os ocorridos na índia ou Austrália.

Imprevisibilidade e negatividade
Quanto mais fora do comum um fato, maiores suas chances de se tornar notícia. É só lembrar daquelas matérias do Jornal Hoje: urso panda nascendo, astro do rock que cozinha nas horas vagas, malabarista que virou prefeito. Como diria ‘o outro’, um homem puxando um cachorro pela coleira não é notícia, mas um cachorro puxando um homem pela coleira é.

Gostando ou não os fatos negativos sempre são tratados com certa prioridade nas redações. A queda de um ministro será mais noticiado que sua nomeação. Quanto mais um acontecimento se desvia do comportamento padrão, maior a possibilidade de se tornar notícia.

Continuidade
O desenvolvimento das informações, suas desdobras, é notícia também. Se você anuncia um jogo que acontece nesta noite, seria sensato anunciar no dia seguinte o resultado.

Logística
Pode parecer bobo, mas é verdade. Quanto mais fácil de cobrir uma notícia, mas provável que ela seja realizada. Já cansei de ver pautas caindo por falta de carro ou de fotógrafo. Se for para a TV então.
Notícias mais fáceis de serem produzidas normalmente ganham a preferência nas pautas.


Basicamente, com esses critérios, podemos começar a entender o que pode tornar um fato notícia ou não. Estes critérios também podem ser chamados de ‘valor-notícia’. Alguns autores preferem este termo.
Para terminar, gostaria de mencionar que Van Dijk enumera a questão ‘valor notícia’ da seguinte forma:
1) novidade;
2) atualidade;
3) pressuposição (a avaliação da novidade e atualidade pressupõe conhecimentos prévios; além disso, segundo o autor, os  acontecimentos e os discursos só seriam perceptíveis mediante o recurso a informação passada);
4) consonância com normas, valores e atitudes compartilhadas;
5) relevância (para quem recebe a informação);
6) proximidade (geográfica, social e psicoafetiva)
7) desvio e negatividade (psicanaliticamente, a atenção ao crime, aos acidentes, à violência, etc., funciona como um sistema emocional de autodefesa: ao contemplarem-se expressões dos nossos próprios temores, o fato de serem outros a sofrer com as situações proporcionar-nos-ia tanto alivio como tensão).

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Conceitos básicos para quem deseja ser jornalista

Ao iniciar uma faculdade (curso, em Portugal) de jornalismo muitos estudantes não tê
m a visão exata do real papel do jornal e dos profissionais que o constrói. Hoje, a maioria que procura esta faculdade é formada por moças que querem ser repórter de tv. Uma outra parte, de meninos que querem ser jornalista esportivo.

Isso mostra, na minha opinião, como os jovens não são bem informados sobre as possibilidades e responsabilidades desta profissão. Na verdade, muitos iniciam a faculdade justamente caminhando contra a ética da profissão. Buscam fama e reconhecimento ao invés de informar e realizar seu papel social.

Lembro-me que ao cursar a faculdade de jornalismo, minha 'ficha só caiu' no último ano.  Seria como o 'médico filho de médico que faz medicina' porque sabe que não lhe faltará emprego e ainda ganhará um bom salário (sei que no setor público o salário do médico é 'vergonhoso', mas ainda assim é acima da média das demais profissões). Seria confortável cursar medicina para ter estabilidade financeira e não se importar com o real sentido da profissão.

Já fiz um texto falando superficialmente do papel social do jornal e do jornalista, hoje quero escrever um texto mais voltado aos que estão iniciando o curso, ou pretendem cursá-lo.

Noções Básicas
Imagine-se (se você ou pretende ser jornalista) como um defensor dos direitos humanos. É seu dever dar voz aos que não a têm. Defender a universalidade dos direitos humanos. Entrar na profissão para se tornar mais um 'rostinho bonito na tv' ou pra ficar analisando e falando do Neymar, Barcelona ou Brasileirão é uma afronta à própria profissão. A democracia deve ser buscada por prioridade.

'Puxa, então você acha que os jornalistas esportivos são inúteis, e o jornalismo de moda, ou entretenimento são puro lixo?'. Claro que não. Mas os conceitos básicos da profissão são os mesmos. É preciso denunciar os absurdos em favor da Copa e Olimpíadas no Brasil, ou em épocas de ditadura, por exemplo. É mais importante denunciar as famílias 'arrancadas' de suas moradias que se empolgar com a conquista da Copa das Confederações.

Não acredito que nasçam bons jornalistas sem 'pisar na lama'. É preciso entrar nas favelas, entrevistar pessoas 'socialmente excluídas'. Desde a faculdade o gosto pela busca da real democracia deve ser exercitada.

Infelizmente, no exercício da profissão dificilmente teremos a oportunidade de manter 'essa pegada', mas é preciso desenvolvê-la para não nos tornarmos simples conformados. 'O jornal onde trabalho tem anúncio da prefeitura', 'não tenho autonomia para pautar matérias', 'trabalho no Diário Oficial, como vou dar voz aos injustiçados?'. 'Sou apenas um assessor'. Se você se conformar com suas delimitações, seria melhor que não exercesse a profissão.

Desde o início, seja qual for a posição editorial (política) do veículo que trabalha, ou editoria, sempre imagine como deixar seu material mais democrático.

Falar de ética seria muito amplo. Uma boa leitura sobre o assunto seria o livro 'Jornalismo Público', de Danilo Ruthberg. Eu tenho este livro e recomendo. Quero escrever um pouco sobre noções básicas para exercer a função jornalística.

Duro ou mole?
No último post falei sobre algumas pistas que você pode ter para saber se realmente esta é a profissão para você. Agora, imagino uma situação na qual você possa aprofundar um pouco os conhecimentos sobre o texto jornalístico.

Há muita coisa para aprender. Vou começar com o informação 'dura ou mole'. Um dos conceitos básicos do jornalismo. É realmente fácil de entender.

Quanto mais próximo de um boato, mas 'mole' é a informação. Por outro lado, quanto mais concreta e embasada uma informação,  mais 'dura'. Por isso, evite dados, informações e números que você não consegue identificar a origem (fonte).

Dizer que 'a população aprovou a reforma' é totalmente mole se você não tiver a declaração de um, dois, ou até mais, morador confirmando isso. Escrever que os políticos estão em descrédito é inviável se não houver uma pesquisa com um número de entrevistados considerável.

Uma boa forma de aprender essa diferença de 'duro e mole' é a seguinte: imagine que você pode ser processado por cada informação incorreta. Com certeza você vai pensar 234 mil vezes antes de escrever que 'o juíz Fulano de Tal é homossexual'. Mesmo com dados menos comprometedores, como 'azul é a cor preferida dos meninos', imagine que se você não tiver um respaldo, vai ganhar um 'belo' processo.

Assim, toda vez que você apresentar uma informação, vai buscar a origem dela. Por isso, quando há pesquisas, por exemplo, se divulga 'Fonte: Ibge', ou escrevemos 'segundo Fulano de Tal', 'Cicrano acha que a presidente errou ao tomar tal decisão'.

Notícias, excluindo pequenas notas, são sempre baseadas em estatísticas e entrevistas. Escrever que fulano está triste ou alegre sem que ela diga, por exemplo, deve ser evitado. Por isso, ouvimos e lemos muito a expressão 'visivelmente abalada', ou transtornado, ou 'mostrou irritação'.

Com a prática o conceito de 'duro e mole' é melhor assimilado, mas acho que deu para entender o que significa.

Se você já foi dar depoimento na delegacia como testemunha, sabe que se você falar 'eu acho que motoqueiro estava errado', vai tomar 'um fora' do delegado. Ele provavelmente dirá 'não quero saber o que você acha, quero saber o que você viu'. É mais ou menos isso que o jornalista faz. Não interessa o que você acha, e sim o que é concreto, real.

domingo, 28 de julho de 2013

Ser ou não ser (jornalista)? Eis a questão

Para quem deseja iniciar a carreira de jornalista este texto visa esclarecer algumas dúvidas sobre a profissão e apontar alguns conceitos básicos. Mercado de trabalho, salários, áreas e ramos são alguns elementos abordados neste post.

Por que devo ser jornalista?
Muitos jovens, não que eu seja velho, assistem filmes, novelas, seriados ou documentários e acham que ser jornalista é quase ser detetive. Outros tantos se fantasiam trabalhando na Espn, Globo ou CNN. São ideias descartáveis. Não que você não possa ter esta ambição, mas, como toda profissão, não é a realidade da maioria, principalmente se você não se formar na USP ou outras 'mega' universidades, as quais lhe ofereçam a possibilidade de cruzar com grandes nomes pelos corredores.

Só para você saber, trabalhar em uma filial da Globo nem é tão impossível, mas se você chegar lá vai perceber que o salário não é tão fenomenal assim e nem as condições de trabalho. Por isso, não se iluda achando que ao trabalhar em uma filial da Globo, Band ou Record vai poder 'amarrar o burro na sombra'.

Você também logo vai perceber que a média salarial é relativamente baixa. Mas se você fizer 'tudo direitinho' depois de , mais ou menos, uma década na área você terá boa chances de ter dois empregos, trabalhar em assessoria ou pegar uma 'graninha' extra com trabalhos freelance. É claro que não dispensamos as possibilidades de você ser promovido. Minha dica: desde a faculdade acumule conhecimentos para tentar passar em concurso público, onde a média salarial é de R$ 3500,00. Ah, e não esqueça de fazer uma pós.

Tem muito jornalista que vive de aparência
Tem muita gente que associa a profissão de jornalista com glamour, pois conhece algum profissional que vive em festas, reuniões sociais, próximo às autoridades. O pior é que tem muito jornalista que se ilude com isso mesmo.

Ao exercer a profissão você vai participar de zilhões de festas sociais da elite, as chamadas 'festas fechadas', vai ganhar mais zilhões de convites e entradas vip e vai ter mais proximidade das autoridades. Conviver com a elite não significa fazer parte dela. Cabe a cada um julgar se essas coisas devem ser apreciadas ou não.

Pode ter certeza que muito jornalista que 'paga um sapo' não ganha tanto quanto você imagina, por isso, não escolha essa profissão achando que os blazers e ternos alinhados são sinônimos de salários altos. A não ser que você avalie que ganhar pouco mas estar entre os importantes é melhor que ganhar muito e não ter tanto reconhecimento, como engenheiros ou analistas de sistema.

'Quero ser comentarista de futebol'
Você também precisa saber que dificilmente escapará da política, assistência social ou outros assuntos não tão atraentes, pelo menos para a maioria que ingressa na faculdade almejando trabalhar com esporte, moda ou tecnologia. Mesmo assim não desanime, pois assuntos como política e economia não são nenhum bicho de sete cabeças e fazendo o 'feijão com arroz' não há muito o que temer.

Recomendo que 'saia da caixa' e pense na profissão como um 'geral', esteja preparado para atuar em qualquer segmento. Não entre na paranoia de querer ser só 'jornalista esportivo' ou 'de comportamento'.

Outra coisa: esquece essa história de 'investigador'. Jornalista consegue as informações por que tem fontes interessadas em prejudicar ou beneficiar alguém. Por exemplo: o caso do mensalão estourou porque políticos de oposição e ex-integrantes resolveram chamar a imprensa para repassar informações e documentos. Não foi nenhum 'salvador da pátria' que ficou dias sem dormir, revirando lata de lixo e investigando a vida pessoal dos suspeitos. A mesma coisa para o recente caso dos jatos da FAB. Diga-se de passagem, grandes 'escândalos' (principalmente políticos), normalmente, também envolvem dinheiro. Prefiro não me aprofundar nesta questão.

Considere trabalhar para empresas, pois com a profissionalização e evolução da comunicação empresarial, as grandes empresas recrutam jornalistas para sua assessoria de imprensa com muito mais frequência que em anos passados. Além disso, a evolução das tecnologias exige que as empresas tenham um profissional de Comunicação para lidar com as redes sociais e novas mídias.

Onde trabalham?
O campo para jornalista é bem amplo, mas não nos enganemos, rádios da cidade, canais por assinatura da sua região, jornais de bairro, portais, etc vão lhe oferecer baixos salários. Para quem está começando, aceite, pois, no pior das hipóteses, você acumula experiência e melhora o currículo.

O 'filé', em termos salariais, além, claro, dos grandes veículos, é pegar uma assessoria de imprensa, seja em empresas ou no ramo político. No entanto, as 'dispensas' ocorrem com mais frequência e facilidade. sem contar que você será obrigado a 'pagar um pau' pro seu empregador 24 horas por dia. Aí, você tem que ir em reunião às 23h, festa de aniversário no domingo à tarde e inaugurações no dia do aniversário de sua esposa. Existe boas chances de você ter que 'vender sua alma'.

Como saber se serei um bom jornalista?
Também estou atrás de uma resposta para essa questão, mas conversando com amigos e professores posso dar algumas sugestões (as quais também vou seguir :)). Fuçando na net, você vai achar dicas de 'ler muito', 'escrever bastante' e 'se informar sempre'. Na verdade, são dicas para todas as pessoas, independente da profissão, mas é claro que, como jornalista, você vai dar mais atenção às palavras utilizadas, à construção do parágrafo ou apresentação das informações.

Acho que, como em toda profissão, o importante é ter disposição para sempre aprender e se reciclar. Não ficar com pensamentos e dogmas nos enjaulando.

As dicas de ler muito, escrever, analisar, avaliar você vai desenvolver na faculdade ou com o tempo de profissão. Não quero falar disso neste texto. Talvez, em um próximo. Por enquanto, prefiro ressaltar a importância de buscar as informações, seja na profissão ou na faculdade. Tendo disposição para coletar a maior quantidade possível de dados já um bom sinal.

Jornalista só escreve? O tempo todo?
Não! Também bebemos muito café :).

Claro que comparado com outras profissões, escrevemos muito mais, mas isso não significa que a rotina de trabalho de um jornalista se resume a isso. Conversamos muito, debatemos, colocamos nossas ideias, ouvimos opiniões diversas. Isso nos dá segurança para abordar um assunto, mas ainda há muitas outras coisas que um jornalista pode fazer.

  • Elaborar sites, portais e blogs. Agir como intermediador nas redes sociais. Criar jornal interno de uma empresa. Ajudar a criar folhetos e folders. Atuar juntamente com a equipe de publicidade para desenvolver estratégias de comunicação. Servir de intermediário entre empresa e população. Responder perguntas, correr atrás de soluções, ajudar a construir a 'imagem' de uma empresa, instituição. 
  • Atuar em ONGs.
  • Editar e diagramar. 
  • Definir estratégias de comunicação. 
  • Atuar em programas de mídia eletrônica (tv e rádio), não apenas como locutor ou repórter, mas também nos bastidores, coletando informações, fazendo contatos, definindo pautas, organizando as equipes.  Elaborar e intermediar documentários, debates e 'mesas redondas'.
  • Atuar no cinema, como pesquisador, entrevistador, redator.
  • Produzir discursos, elaborar documentos e apresentações. 
  • Atuar em rádios, não só como locutor, mas coletando informações para os locutores. Foi minha primeira experiência na profissão.
  • Atuar em  canais de televisão. Assim como no rádio, não necessariamente aparecendo, mas contruindo a base interna de informações.
Onde estudar?
Quem mora em cidade pequena, como eu, não tem muita opção, mas quem mora em capitais pode ficar indeciso sobre qual faculdade escolher. Neste LINK há uma lista das dez melhores faculdades de jornalismo do Brasil, já neste outro LINK é possível ver a avaliação de todas as faculdades de 5 a 3 estrelas.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Jânio Quadros o "mago" do marketing político

Provavelmente, antes mesmo do termo 'marketing político' existir, ou pelo menos ser conhecido no Brasil, Jânio Quadros já utiliza estratégias que ainda hoje são a base do marketing político no país.

A cientista política Vera Chaia o classifica como um “mago" do marketing político. Já o ex-ministro e embaixador Rubens Ricupero diz que o jeito de se fazer política hoje em dia começou com Jânio.

A imagem de popular, sem aquela 'pompa' de político ou de intocável, tornou-o um candidato próximo à população. O que hoje, podemos chamar de populismo ou, ainda mais crítico, lulismo, já era praticado por Quadros nos idos anos 60.

Não é para menos que é considerado o precursor do marketing político. Para quem deseja aprofundar seus conhecimentos na área, o livro de Nelson Valente sobre o ex-presidente é indispensável.

Imagem pessoal
Não pense você que essa coisa de 'trabalhador das classes', homem de origem humilde e imagem de 'povão' é coisa nova do PT. A estratégia, que ainda vale muito em uma eleição não apenas no Brasil mais em toda América Latina, começou a ser desenhada por Jânio.

Ora com sapatos trocados, ora (quase sempre) com sua vassoura, com a qual varreria a corrupção do país, ora comendo um sanduíche de mortadela tirado do bolso. Assim era Jânio Quadros nos palanques de campanha. A imagem de um homem simples era pela primeira vez representada com tanta clareza e maestria em um político.

Criou mais que uma imagem pessoal. Uma identidade nacional. Numa época que o rádio ainda era o grande veículo das massas – a televisão começava a ganhar mercado – suas palavras simples e discursos cheios de conotações patriotas, inflamavam os eleitores de paixão e esperança.

Ao mesmo tempo que passava uma imagem de simples, procurava ser visto como uma pessoa culta. Assim, o povo poderia enxergar nele alguém culto, mas humilde. Por isso, mostrava seus projetos, propostas e opiniões de uma forma aprofundada, mas utilizando palavras simples, de fácil entendimento.

Essa característica, ainda hoje, pode ser decisivo em uma campanha. Posso citar o exemplo mais claro: o PT e o PSDB. Os candidatos tucanos sempre apresentam índice de rejeição por parecerem 'ricos' ou 'esnobes. Já os candidatos do PT são os que possuem maior carisma junto à população. Não fosse o apoio do 'humilde e batalhador' Lula, teria Dilma vencido as eleições?

Usava as bandeiras de São Paulo e do Brasil sempre que julgava importante. Ainda hoje, candidatos fazem questão de ressaltar sua origem paulista, interiorana ou nordestina como sendo um sinal de humildade, força ou capacidade.

Material
Além de utilizar os tradicionais espaços nos jornais, revistas e rádio, fez uso em grande escala de materiais promocionais como santinhos, selos, broches, cartazes, panfletos, ofícios, cartilhas eleitorais, flâmula, bilhetes de rifas e cédula. Desenvolveu interessantes slogans, como:

VASSOURA NELES
LIBERDADE ORDEM
MORALIDADE ECONOMIA
– NÃO DESESPERE –
JÂNIO VEM AÍ
JÂNIO VEM AÍ...
NÃO DESESPERE!
JÂNIO VEM AÍ...
O AMOR PELA PÁTRIA
ME FARÁ VENCER

domingo, 30 de junho de 2013

O princípio de 'contraste' em design

Para quem está começando a entender um pouco melhor as artes visuais, ou quem não é da área, mas quer dar um toque mais profissional aos seus trabalhos, este texto pode lhe fornecer dicas importantes.

Baseado no livro 'Design para quem não é design', de Robin Williams, podemos entender que o design gráfico é baseado em quatro princípios: alinhamento, repetição, aproximação e contraste. Em posts anteriores eu já comentei um pouco sobre os três primeiros elementos. Hoje, vamos dar fim ao assunto, falando sobre o conceito de contraste, que para mim também poderia ser classificado como hierarquia.

Dar contraste significa que os elementos não podem ser tratados de forma semelhante. Por exemplo, um título não pode ter o mesmo tamanho do resto do texto. Um cartão de visitas não pode ter todas as informações usando a mesma fonte, no mesmo tamanho. A leitura fica perdida, os olhos não identificam o que é mais importante. Por isso, é importante darmos contraste aos elementos.

De igual maneira, não podemos tentar diferenciar dois elementos com 'pouca coisa'. É preciso deixar claro que estamos diferenciando as informações. Por exemplo, um título tamanho 14 e um texto tamanho 12 são semelhantes. O ideal seria usar um título, com 20 ou mais de tamanho. Usar um elemento laranja e outro vermelho não vai destacar nenhum deles. Eles vão continuar semelhantes. Use vermelho e azul, laranja e verde, sei lá, mas não use cores 'da mesma paleta'.

A imagem ao lado é um slide que fiz para uma apresentação no curso de inglês. Você consegue perceber como utilizei o contraste?

No título do slide, FRATELLI RESTAURANT, usei fonte maior e mais forte que o que foi usado no restante do texto. Se eu tivesse usado fonte preta, mesmo que maior, não se destacaria tanto. Da mesma forma, se eu tivesse usado fonte vermelha, mas do mesmo tamanho do resto, o destaque não seria tão claro.

O contraste também tem muito a ver com todos os outros três elementos fundamentais do design gráfico.

Veja como eu tive que utilizar o alinhamento no texto, mas o título não segue o alinhamento do texto, mas sim seu próprio alinhamento, pois é um elemento 'independente'.

De igual forma, tive que utilizar a repetição no texto. Pois se cada linha de texto fosse de uma cor, não haveria contraste, nada se destacaria, nem mesmo o título. Repeti a fonte para que, ao usar o vermelho no título, o vermelho se destacasse.

O fator proximidade também tem a ver com contraste, pois quando queremos que um elemento se destaque dos demais, ele deve ter uma distância 'diferenciada'. Isso fica bem claro neste modelo de currículo (tirado do livro de Robin Williams).

O contraste pode ser 'feito', utilizando-se linhas, pontos, pontilhados, caixas. Enfim, pesquise em jornais e revistas como isso é trabalhado por profissionais. Veja como existe infinitas possibilidades.

Veja como é fácil perceber que o currículo foi dividido em várias 'seções', facilitando o leitor encontrar as informações necessárias. Se desejo encontrar onde a pessoa se formou, o destaque em "formação acadêmica' facilita o acesso à informação.

Repare também que a utilização de diferentes fontes não reproduz uma 'salada visual'. A utilização inteligente de uma fonte, mas em modo caixa alta (todas em maiúsculas), versalete (a primeira letra de cada palavra maiúscula) e caixa baixa pode apresentar um contraste interessante e inteligente.

A utilização de linhas, no exemplo do currículo deixou o visual leve e de fácil leitura.

Repare neste último exemplo como a utilização de letras em caixa alta e vários tamanhos em diversos pontos do design dificulta a leitura. Você não consegue priorizar um ponto. Tudo parece que merece destaque. Isso também é importante. Você deve saber o que realmente merece destaque. O telefone? O endereço? O serviço? O preço? O nome da empresa? Pense bem o que realmente deve ser colocado em evidência ao criar uma peça gráfica.

A peça está 'pesada'. Para que tantas águias? Não existe espaço de descanso de vista. O contraste inteligente atrai a leitura, oferece ao leitor um visual agradável e de fácil entendimento. Não há nada de errado com espaços em branco, quando usado com sabedoria. Aliás, não há peça gráfica profissional que não use o descanso de vista.

Portanto, quando for montar seus lides, cartão de visita, panfleto, ou qualquer outra peça visual, trabalhe um pouco com o contraste. Não tenha medo de destacar o que realmente deve ser destacado e lembre que um elemento só vai se destacar se os outros seguirem um padrão. Um título vermelho só vai se destacar se o resto do texto for de apenas uma cor. Se um texto possui linhas em verde, azul, amarelo e laranja, o título dificilmente vai se destacar pela cor.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Jornalista narra a história, não a constrói

Na última semana li um excelente texto de Carlos Alberto di Franco, no qual menciona Carl Bernstein, para levantar uma importante questão do jornalismo. A profissão exige que o jornalista narre os fatos, aponte os diferentes pontos de vista, não cabe a ele construir a história, ainda que usando subterfúgios linguísticos, narrativos ou mascarando sua opinião pessoal com informações, declarações inexpressivas, e até levantando polêmica para se dizer incisivo.

Se, por um lado, critica-se o político manipulador, muito jornalista entra no jogo do 'faz de conta que sou neutro' para manipular a opinião do leitor, embaçar a vista, omitindo fatos, informações e ressaltando o que lhe apraz.

A 'ficção da imparcialidade' normalmente é feita com aspas do prejudicado, por falta de uma pergunta inteligente, ou esclarecedora. Em épocas eleitorais, então...

Escrever um texto sem que interesses exterior o influenciem, pode ser menos difícil que escrever um texto
sem deixar os interesses internos prevalecerem. O interesse do próprio jornalista acaba prevalecendo sobre o interesse social.

Como o texto diz, reconhecer o erro de grafia ou de uma vírgula mal colocada é fácil, difícil é reconhecer os erros éticos.

Os jornais continuam não sendo um espelho da sociedade. Em minha cidade, Guarujá, por exemplo, isso é bem claro. Verdadeiros boletins políticos são distribuídos na faceta de jornais, alguns deles sem jornalista responsável, inclusive. Mesmo em veículos mais importantes do país, a prática existe, prejudicando a democracia.

Fácil é apontar um político defender seus interesses, enquanto
a grande imprensa, com o poder do conhecimento das palavras, ludibria de forma menos visível.

Aos profissionais e estudantes de jornalismo cabe vigiar-se e ter humildade de cumprir com ética o que se espera dele. Quando o escritor tem a capacidade de comercializar sorrateiramente sua opinião no texto, influenciando opinião pública, mas prefere assim não proceder, mostra-se digno da profissão que exerce.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

O nascer do ‘jornalismo colorido’

Depois dos sucessos da imprensa marrom (ou amarelo, como é chamado nos EUA) e do jornalismo Rosa, a tendência agora é o jornalismo 'colorido', voltado para o público GLBTT.

Não é de hoje que se fala em diversidade sexual, igualdade de direitos e outros assuntos sobre o tema, mas é certo que nesta década (pós 2010) os gays (homossexuais ou como prefira) são ‘a bola da vez’. Estão mais em pauta que nunca. Já fiz algumas matérias sobre.

Mostrar seus interesses, lutas e conflitos é o’hit’. Se um gay se diz discriminado, pronto: é capa. A passeata gay em São Paulo tem espaço reservado nos grandes veículos do país, ainda que tenha passado de um movimento político, para uma grande festa, mais um carnaval.

Como seria um caderno ‘colorido’
Logo, haverá cadernos e editorias ‘coloridas’ periódicas? A crescente demanda sobre o assunto me leva a crer que isso acontece ainda nesta década. Em pelo menos um ou dois, grandes veículos.

O que seria pauta no jornalismo colorido? A passeata anual com certeza. Assuntos jurídicos e de polícia, certamente.

Decoração, culinária e arte? Ou seria criar um estereótipo. Não entendo do assunto, talvez alguns amigos possam dar suas opiniões.

domingo, 26 de maio de 2013

Kubistchek ensinou muito sobre marketing político

Material promocional, simpatia, comitês femininos e elaboração da 'marca' JK. Esses foram algumas das estratégias utilizadas por Juscelino Kubistchek na campanha eleitoral de 56, para muitos estudiosos, a campanha de JK foi um grande marco no marketing político do país. De fato, como veremos, ainda hoje suas estratégias são utilizadas.

Antes, gostaria de lembrar que já foram postados textos sobre as campanhas de Castelo Branco, Getúlio Vargas, Campos Salles e Prudente de Moraes. São textos leves, apenas para tratar o assunto de forma mais superficial.

A campanha de JK começou com uma promessa e uma marca política, quase do acaso. Enquanto discursava em uma cidade do interior de Goiás, prometeu construir Brasília, mas também prometera cumprir  a Constituição na íntegra, à risca. Um dos jornalistas juntou as peças e perguntou se ele estava disposto a mudar a capital do país para o interior - na época Rio de Janeiro era a capital do país. Juscelino refletiu por alguns segundos e disse "Cumprirei na íntegra a Constituição". Estava feita a promessa de campanha.

Adotou inúmeros bordões, chavões, slogans. O mais conhecido foi '50 anos em '5, prometendo que o Brasil  cresceria economicamente o equivalente a 50 anos, durante seu mandato. Também era comum falar em 'novos rumos para o Brasil'. Além, é claro, do codinome JK e do apelido 'peixe vivo'.

Material
Assim como seu antecessor, utilizou amplo material como folder, faixas, cartazes, santinhos e um folheto, simulando o papel que seria utilizado nas eleições, no qual ele ensinava as pessoas a votar.

Outra ação bem moderna foi a utilização de releases para jornais, rádio e tv.

Teve forte apoio das mídias da capital mineira e mantinha boa relação com jornalistas. Era constantemente convidado para programas e debates.

Ações
Uma das ações iniciais foi visitar o antigo presidente Venceslau Brás para pedir apoio. E conseguiu.

Criou o comitê feminino liderado por sua esposa. Interagia com a população, sempre simpático e criou o plano de metas, assim deixava bem claro suas propostas, e a população comprou a ideia.

Uma ideia inovadora foi a realização da campanha com dinheiro arrecadado. Criou o 'bônus' da vitória, incentivando a população a contribuir com sua campanha.

Assim como a atual presidenta Dilma, sempre era acompanhado pelo presidente em exercício, na época Getúlio Vargas. Outra iniciativa muito usada até os dias de hoje foi a utilização de músicas.

Essas foram as principais armas usadas por JK em sua campanha. Na próxima redação sobre o assunto, pretendo falar da campanha de Jânio Quadros, igualmente, genial.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Novas mídias e desafios para a Publicidade


A evolução das mídias transformou o comportamento do consumidor. Antes passivo, agora muito mais participativo, exigente e engajado. O ramo da Publicidade deixou de ser um serviço de grande oferta para se tornar um serviço de grande demanda. Existem 'zilhões' de oportunidades, mas, na contra mão, o desafio é maior. 

Prender o interesse do consumidor nos tempos modernos é muito mais difícil, pois é muito mais fácil o receptor perder o interesse pela mensagem nos primeiros segundos. O desafio da nova Publicidade é encontrar formar de fazer o consumidor se interessar pela propaganda a ponto de se concentrar por um período suficiente para captar a mensagem e ainda se engajar.

A pressão de prender o receptor sempre existiu, e sempre vai existir. Trocar de canal, de estação, ou virar a página sempre foram atitudes que os publicitários queriam evitar de seu público.

Se antes as formas de se anunciar eram restritas, agora são quase infinitas. Pode-se anunciar nos aplicativos para smartphones, nas redes sociais, nos jogos online. Aliás, não basta anunciar, é preciso criar métodos de que o usuário utilize o conteúdo e ainda se envolva nisso, a ponto de distribuir com os colegas.

O aperfeiçoamento da rede mundial de computadores tornou o ramo da Publicidade mais exigente. Contar histórias não basta. É preciso ir além. É preciso prender o leitor e fazer que ele se interesse em divulgar a história.

Você gastaria tempo com isso?
O desafio dos publicitários dos tempos atuais é criar ferramentas (vídeos, blogs, aplicativos) que faça o consumidor querer gastar um tempo nisso. Criar um vídeo publicitário e jogar, por exemplo, no Youtube, não vai dar muito efeito se não for muito criativo, que estimule o emocional (comédia ou drama, por exemplo) que faça o internauta querer vê-lo mais que uma vez e ainda distribuir aos amigos da rede.

Criar aplicativos e jogos para smartphones, por exemplo, tem sido o novo boom. O desafio é justamente criar algo tão bom e inovador que faça o público perceber real utilidade, caso contrário, existe centenas de outras opções.

sábado, 4 de maio de 2013

O conceito 'repetição' é o que dá padrão ao design

A princípio, pode parecer uma ideia a se combater, mas a repetição, na verdade é um conceito importante para o design. Pois a repetição dá unidade, padrão, ao trabalho. Não estamos falando em repetir um elemento exaustivamente, mas dar um padrão.

É um dos quatros princípios básicos do design, de acordo com o livro de Robin Williams, 'Design para quem não é designer'.

Um exemplo fácil é o do Banco Itaú. Utilizando a cor laranja em suas campanhas, hoje associamos o banco à cor e vice-versa, pois existe uma repetição da cor em tudo o que o banco produz de comunicação visual.

Por exemplo: você, provavelmente, sempre que escreve um texto, coloca o título em letras maiores ou negrito. Isso é dar um padrão. Este é um exemplo básico, mas o trabalho profissional vai sugerir pequenos padrões, muitas vezes imperceptíveis aos leigos.

Acredito que essa técnica seja melhor assimilada pelas mulheres, que utilizam essa técnica, por exemplo, na maquiagem e nas roupas. Para o homem, pense na repetição como o uniforme de um time de futebol.

Vamos a um outro exemplo. Se você  lê com certa regularidade a Folha, Estadão ou um outro jornal, mesmo que se corte a parte de cima onde fica o nome do jornal, só de visualizar a página, provavelmente você saberá diferenciar uma página do Estadão da página da Folha. Porque cada um segue um padrão de linhas, cores, formas, estilos.

A ideia não é deixar tudo por igual, mas destacar os elementos diferenciais ou consistente.

A técnica de repetição também deve ser usada quando várias peças forem criadas (cartão, cartaz, folder). Você não vai usar fontes totalmente diferentes para folder e cartaz de um mesmo evento. Use as mesmas formas, cores semelhantes e até mesmo design bem próximos.

Utilizando um padrão de estilo, reforçando os elementos, dando consistência. Deve ser usada em materiais de muitas páginas ou quando várias peças foram produzidas.

Comece a reparar como jornais, livros e grandes empresas usam a repetição para dar unidade ao material. Evite apenas os exageros, que ofuscarão os destaques e podem arruinar o material.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Inevitável caminho da cobrança por conteúdo

Quando a internet deixou de ser uma curiosa ferramenta para se tornar uma ferramenta essencial, os jornais passaram a aderir ao novo formato com alguma ponderação.

Ainda não se sabia até onde o jornalismo online poderia chegar. Não se sabia ao certo se um dia o jornalismo online superaria o imprenso. Na verdade, ainda não se sabe.



Primórdios
Quando a internet começou a se popularizar, fim dos anos 90 e início dos anos 2000, as grandes empresas de jornais impressos apostaram em garantir a manutenção do conteúdo online apenas com a propaganda gerada por publicidade online.

Logo se viu que a receita gerada por anúncios online não era o suficiente para manter os novos recursos (e profissionais) necessários para a versão online se pagar.

Aos poucos, foi-se popularizando a possibilidade de cobrar por conteúdos exclusivos. Assinantes das versões impressas, logicamente, ficam dispensados de tal cobrança, mas os internautas que querem ter acesso irrestrito a todo o portal noticioso agora precisam pagar uma assinatura para isso.

Nova ordem mundial
Agora, no começo da primeira década do século 21, percebe-se que os rumos do jornalismo online começam a se desenhar para a cobrança por conteúdo exclusivo.

Os principais jornais americanos, como Washington post e The San Francisco Chronicle já cobram pelo acesso irrestrito. Na Europa, a tendência é irreversível.

Outro modelo adotado é o de cobrar após um determinado número de acessos, adotados pelo The New York Times, Estadão e a Folha. No modelo de A Folha, por exemplo, o leitor pode acessar até vinte conteúdos por mês, sem restrições. A partir disso é necessária uma cobrança.

Seja qual for o modelo, é evidente que os portais de notícias online não conseguem mais se manter apenas pela publicidade online. Uma receita extra é preciso. Cobrar pelo acesso, impensável há alguns anos, hoje é o melhor caminho.

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