Uma das primeiras lições que aprendemos no curso de jornalismo é sobre o lide (lead, em inglês). Estamos nos referindo ao texto introdutório de todas as matérias. Não apenas na escrita, mas em todas as mídias. É o que deve chamar a atenção do receptor. Deve conter as informações essenciais da matéria. Também há quem classifique o lide como um gênero jornalístico, o mais comum.
Basicamente, diz-se que o lide deve responder às questões básicas: o quê, quem, quando, onde, por que e como. Também conhecido como os seis "Q's", apesar de 'como' e onde' não possuírem a letra, mas fica mais fácil aprender assim. Além disso, no inglês, esta técnica é conhecida como os seis W's (what, who, when, where, way e how). Evidentemente, que nem sempre é necessário que todas esses itens precisam ser respondidos. Também há ocasiões em que uma dessas informações seja irrelevante. Neste caso, não é necessário que ela esteja no lide. Pode estar no corpo do texto.
As duas funções básicas do lide são: informar e atrair o leitor. Um texto bem construído pode poupar muito tempo do leitor, que decidirá se continua a ler ou não. Além disso, em dias corridos como os atuais, evita que o leitor perca tempo lendo algo desnecessário, mas só descobre isso após ler toda a notícia. Por outro lado, faz que o leitor perceba que aquela notícia é realmente interessante para ele.
Técnicas
Não apenas no lide, mas até mesmo no título e no decorrer do texto, é preferível a utilização do texto direto, com verbo no presente do indicativo. O texto deve ser objetivo. Por exemplo: "O Brasil joga amanhã" e não "o Brasil jogará amanhã".
O primeiro parágrafo, ou no máximo os dois primeiros, devem conter as informações necessárias para que o leitor entenda do que está sendo informado. O texto restante é um aprofundamento para quem desejar obter informações mais detalhadas. É quase uma propaganda da própria notícia.
A ordem das informações não são as mesmas sempre. Evidentemente, mudam de acordo com a importância de cada notícia. Além disso não é necessário ficar 'bitolado' pelos seis Qs. Com o tempo, aprende-se a desenvolver o texto sem pensar tanto nessa questão.
Documentários, reportagens mais longas, e fait divers, não precisam seguir o lide tradicional por serem um gênero jornalístico mais leve (soft news).
Pirâmide invertida
Assim como o lide, a técnica da pirâmide invertida é uma lição básica do jornalismo. Lide e pirâmide invertida estão ligadas.
Esta técnica consiste em apresentar as informações mais importantes no início do texto. As informações supérfulas vão indo para o final do texto.
Alguns estudiosos de comunicação não acreditam ser esta a melhor maneira de apresentar uma matéria, mas o decorrer dos anos provam que esta é sim a melhor forma de desenvolver o texto jornalístico. Com esta técnica, os editores podem realizar os cortes necessários sem que o redator precise reescrever o texto.
No meu caso, inclusive, muitas vezes saí da redação sem que os editores tivessem lido meus textos. Mas sempre realizaram os cortes necessários sem precisarem reescrever tudo.
Posso dizer que, ao contrário do que é feito em livros e filmes, o climax de uma notícia deve estar no começo. Os pormenores ficam para o meio e final.
É indispensável que o jornalista domine essas técnicas para escrever. Ninguém fica duas ou três horas lendo jornais todos os dias (talvez a equipe de clippagem, mas isso é outra história). Mas muitos leem algumas partes de diversas matérias. Ler apenas o lide de muitas matérias, para a maioria, é melhor que ler uma ou outra matéria por inteiro.
O domínio da escrita também desenvolve o jornalista a captar as informações necessárias para cada texto, não perdendo tempo correndo atrás de informações que não serão publicadas.
Exemplos
Segue alguns exemplo de bons lides retirados do site do Estadão.
As mulheres se envolvem cada vez mais no tráfico e uso de cocaína e
crack em São Paulo. Os dados, divulgados ontem pela polícia paulista,
revelam que, das 980 pessoas presas em flagrante no ano passado, 229
eram mulheres. "Elas começam a fumar crack ou a cheirar cocaína em
festas com os amigos ou namorados", revelou o delegado Fernando Vilhena.
"Quando o fornecedor desaparece, passam a roubar e a fazer de tudo para
conseguir a droga."
A que foi classificada como "a nevasca do século" nos Estados
Unidos matou pelo menos 100 pessoas e bloqueou aeroportos, estradas e
edifícios com uma camada de até 80 centímetros de neve. A tempestade
obrigou as autoridades a fechar seis aeroportos e a declarar estado de
emergência em seis Estados. Em Nova York, 18 pessoas ficaram intoxicadas
pelo monóxido de carbono: o gelo obstruiu os canos de escapamento dos
carros.
Exemplo de lide mal construído:
Policiais de Osasco, na Grande São Paulo, esclareceram ontem o desaparecimento de Margarida Almeida de Souza, de 19 anos, filha de um empresário da cidade. No começo de março, ela saiu de casa para morar com o namorado Álvaro de Andrade Silva, de 23 anos, viciado em cocaína e maconha, e não deu mais notícias.
O Estadão recomenda que o trecho acima fosse escrito da seguinte forma:
Filha de um empresário de Francisco Morato, na Grande São Paulo, e
desaparecida desde março, Margarida Almeida de Souza, de 19 anos, foi
morta pelo namorado, Álvaro de Andrade da Silva, de 23 anos, em
Miracatu, no Vale do Ribeira. Silva, preso anteontem por policiais de
Osasco, alegou ter cometido o crime porque queria voltar a morar com a
mulher e Margarida ameaçava denunciá-lo por causa do envolvimento dele
com drogas.
O assunto não é tão simples como parece. Este BLOG, por exemplo, lista 32 tipos de lides.
Um exercício simples para aprimorar essas técnicas é pegar lides de grandes jornais e tentar reescrevê-los utilizando as mesmas informações, mas apresentando um texto diferente.