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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Objetividade como escudo

Em seu ambiente de trabalho o jornalista sofre pressão de muitas formas ao escrever uma matéria. A começar pelos seus chefes, incluindo aí os interesses comerciais e políticos intrínsecos. Posso citar também os interesses das próprias fontes, por isso a importância de fugir do denuncismo e do jornalismo declaratório, que se resume a ouvir uma ou outra fonte sem buscar evidências e provas.

Eu já sofri muito com interessados em prejudicar alguém tentando influenciar na matéria, não apenas no conteúdo, mas na forma que as informações são apresentadas. Conforme Gaye Tuchman, a noção de objetividade de um jornalista pode ser percebida na forma, nas relações inter-organizacionais e no conteúdo.

O "escudo da objetividade" não é um privilégio do jornalista. Médicos, sociólogos e advogados, por exemplo, também o usam. O médico ao fazer um diagnóstico, se baseia em dados e passa seu ponto de vista baseado ao máximo em informações. O jornalista, quase sempre, tem um dia apenas para colher as informações, sintetizá-las e apresentar seu trabalho, sempre pensando na melhor forma de fazer tudo isso de maneira considerada aceitável pelos seus patrões, que, aliás, normalmente não são poucos.

Usar a objetividade é mais que um dever profissional é questão de "sobrevivência", e olha que na cidade que moro, é questão de sobrevivência mesmo!!! Para se blindar contra possíveis ataques, existem, basicamente, quatro itens que compõem a armadura do jornalista.

Quatro elementos da objetividade
Apresentar fatos conflitantes é sempre importante. Podemos dizer que é o conceito básico do jornalismo. Dizer que uma ponte será construída pode parecer propaganda política. Neste caso, apresentar possíveis modificações negativas ou alto custo, por exemplo, pode deixar a matéria menos 'panfletária'.

Documentos, imagens ou vestígios podem funcionar como provas auxiliares, que dão peso ao texto, deixando a informação "dura" o suficiente para ser considerada publicável.

As aspas, podem ser um grande amigo do jornalista, mas pode ser também um grande inimigo. Ao colocar palavras sob a responsabilidade de alguém, o jornalista desaparece do texto, mas o uso injustificado ou exagerado podem gerar um jornalismo de denuncismo. É muito cômodo colocar a fala de um e de outro e pronto. Sem análise, sem documentos, sem provas. Se um entrevistado diz que o fulano é corrupto, é preciso solicitar provas. Fazer matéria em cima de declarações é o que podemos chamar de imprensa marrom. Mostra um jornalismo tendencioso e que está disposto a prejudicar alguém a todo custo, nem que seja apenas com declarações de seus rivais.

Por fim, Tuchman menciona a estruturação. A forma como as informações são apresentadas também deve ser bem analisada pelo jornalista. Este assunto, aliás, é bem interessante e vou explorá-lo melhor em um próximo post. A estruturação conforme a hierarquia de importância das informações tem um forte apelo na apresentação da matéria. De todos os elementos da objetividade este é o que requer maior cuidado, pois a definição de quais informações são mais importantes que outras é um critério pessoal. Se mal utilizado pode ser subjetivo.

Estes quatro itens observados podem proteger o jornalista no exercício da sua profissão, evitando críticas das partes interessadas; São elementos que podem livrar o profissional de armadilhas impostas por chefes, fontes e até colegas de trabalho.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Jornalismo declaratório. Puro fracasso

Entende-se por jornalismo declaratório, a produção de uma matéria baseada em declarações. Entrevista com as partes envolvidas. Para um leigo, ouvir os dois (ou mais, se houver) lados basta para se fazer jornalismo.

Se você é estudante ou está nos primeiros passos da profissão de jornalismo, tente fugir deste pseudojornalismo.

Um trabalho que se resume em divulgar as partes envolvidas e suas declarações e posições não pode, e não deve, ser dito como um trabalho profissional.

Este trabalho surge, basicamente por causa de dois elementos fundamentais que não são conciliados no jornalismo moderno.

1. Necessidade de se cumprir uma função social e de retratar uma realidade.
2. Limites das redações e veículos na produção e investigação de notícias. Basicamente, falta de tempo para melhor apuração e pressa em publicar algo novo.

No fim das contas o jornalismo atual, devido à pressão por novas matérias a cada instante e equipes relativamente pequenas, não consegue cumprir o papel social de investigar a fundo suas matérias, mas precisa divulgar alguma coisa para mostrar "trabalho".

Por fim, para desencargo de consciência, ouve-se dois ou três personagens e se publica algo. Muitas vezes, sem, se quer, checar a veracidade dos fatos.

Para @Orlando Tambosi, jornalista catarinense, "Por um lado, quanto mais declaratório for o jornalismo, quanto mais depender exclusivamente de fontes, mais difícil será sustentar que seja uma forma de conhecimento autônoma. [...] Em resumo, o jornalismo declaratório produz informações, mas é difícil saber se são verdadeiras, por mais ‘checadas’ que sejam e por mais críveis e honestas que sejam as fontes. Pode por isso induzir a crenças falsas. Nesse sentido, não produz conhecimento".

Jornalismo declaratório e dossiês
Trata-se de um trabalho forjado para fingir imparcialidade. Ao invés de se produzir um material de investigação, baseado em fatos, descobertas e documentações legítimas, produz-se dossiês.

O problemas é que estes dossiês são produzidos por pessoas ou grupos de pessoas com um interesse em comum. Este a tendência deliberada de atingir alguém, ou alguma instituição.

Vale ressaltar que receber o material, os dossiês, não é errado, mas publicá-lo como se fosse o produto de uma investigação jornalística é totalmente fora de ética.

O trabalho do jornalista é coletar dados e entrevistas, deixando bem claro os contextos nos quais foram colhidos sem deixar a impressão que um material colhido de uma fonte tenha sido fruto de investigação do próprio jornalista, ou veículo.

Portanto, tomemos cuidado para não nos acomodarmos e usarmos como desculpa a pressa ou falta de tempo para publicarmos declarações como fruto de matéria de investigação e apuração.

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