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terça-feira, 8 de outubro de 2013

O caminho da notícia até o leitor

Sabe-se que uma matéria jornalística deve ser realizado com imparcialidade. Ouvir todas as partes e contruir uma notícia desprendida de pessoalidade. Já escrevi, pelo menos, dois textos interessantes sobre o assunto. Um fala que o jornalista relata a história, não a contrói. Outro texto fala das características da notícia. A apresentação da notícia como produto final tem um longo processo.

A informação que você vê um jornal na televisão, ou lê uma matéria nos jornais, revistas e sites, já passou por um longo percurso, o que nos faz perceber que a imparcialidade total não existe. Tudo começa pela simples escolha do que será notícia.

Pauta
A primeira fase de uma matéria é a pauta. Os diretores, chefes e jornalistas decidem quais matérias serão produzidas. Esta simples seleção já é um filttro. Decidir que vamos falar do Neymar e não do atleta da equipe brasileira de pentatlon moderno já é uma 'parcialidade'. Ao escolher uma determinada matéria a ser produzida, leva-se em consideração o impacto que terá em todos os interessado (stakeholders).

Um jornal de assessoria vai levar em consideração sempre a possibilidade de se criar uma imagempositiva do assessorado.

Colocar a pauta na agenda de matérias a serem produzidas também envolve recursos humanos. A logística de pessoas necessárias para a cobertura, como motoristas, fotógrafos, horários, e até mesmo as demais matérias pautadas para o dia.

Ângulo, prioridade
Depois, vem o enfoque da notícia. Podemos falar que mais uma rua foi recapeada, ou destacar os números gerais da administração pública neste tipo de serviço. Devemos decidir qual deve ser o espaço desta matéria na página. Se haverá foto em destaque, se vamos entrevistas só os moradores da rua, ou um representante da secretaria responsável.

Em campo
Ao sair para realizar a matéria, o jornalista se mune de infomrações e já vai traçando possíveis perguntas e levantamento de informações. Em campo, ele também seleciona as pessoas que ai entrevistar e as perguntas que serão feitas. Muitas vezes, as entrevistas não são realizadas todas no local. Sempre se percebe que uma entrevista com fulano ou beltrano pode deixar o texto mais 'rico'.

Em campo, muitas decisões são tomadas e o público não tem controle sobre o jornalista para saber por que ele selecionou este ou aquele personagem. Raramente todas as informações cabem em uma matéria. Por que resolver divulgar esta informação e não outra.

Vou dar um exemplo fictício de como uma mesma informação pode ter enfoques diferentes. Nos últimos dez anos a criminalidade aumentou em números absolutos, mas caiu proporcionalmente ao aumento da população. Antes, a cidade tinha 100 mil habitantes e aconteciam cem crimes por mês, ou seja um crime para cada mil habitantes. Agora, são 300 mil habitantes, e cento e cinquenta crimes por mês, ou seja, um crime para cada 500 habitantes. Podemos destacar o aumento de crimes ou podemos destacar que, proporcionalmente, os crimes diminuiram.

Edição e chefia
O jornalista escolheu as entrevistas que vai usar, os dados que vai publicar e escreve a matéria. Ainda existe o trabalho dos editores. Eles podem cortar informações, tirar falas ou reescrever algumas partes do texto para ficar conforme as exigências dos stakeholders (interessados no produto).

Mas ainda não acabou por aí. Depois de todas as possíveis modificações, os chefes de redação ainda podem escolher quais textos poderão ser publicados e quais podem ficar na gaveta (para ser publicada em outra data), ou até mesmo descartar matérias, que nunca serão publicadas.

Ainda é dado 'peso' ao escolher quais matérias serão destacadas, quais terão chamadas de capa e quais ganharão infográficos e fotos.

Imparcialidade?
Com tantos interessados em uma notícia fica impossível dizer que os veículos de comunicação são imparciais em todos os sentidos. Devemos tentar identificar quais as principais forças (stakeholders) por trás desse ou daquele jornal, canal de tv ou site, para evitar que nosso conhecimento de mundo seja manipulado por jogo de interesses.

O jornalista, por sua vez, deve sempre buscar desenvolver uma matéria com valor-notícia para o seu público, desprendido de suas convicções pessoais, dando ao público o maior 'poder' possível de interpretar as informações e chegar às suas convicções.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Características de uma notícia

Já falei um pouco sobre o que é necessário para se tornar jornalista. Hoje vamos dar continuidade ao assunto falando sobre os critérios de noticiabilidade. Como podemos identificar uma informação como de interesse jornalístico de outra que não seja.

Como vimos no texto passado, um dos primeiros passos para o estudante de jornalismo, ou foca (jornalista novato) é saber identificar a informação dura e a mole. Isso é muito importante, pois por mais interessante que uma informação possa ser, se for ‘mole’, não há como torná-la pública. Não é função do jornalista espalhar boatos.

Existe uma série de características que tornam uma informação em notícia. Claro que no dia a dia ninguém fica com uma listinha checando item por item, mas com esse conhecimento fica mais fácil tomar decisões rápidas e assertivas.

Captando informações
Como já escrevi, toda informação precisa ter uma fonte. Seja uma declaração, uma entrevista, dados estatísticos, análises técnicas ou documentos. Nunca uma matéria pode ser publicada no ‘achismo’. “Se continuar jogando mal como ontem, o Brasil não terá a mínima chance de conquistar a Copa do Mundo”. Isso não é matéria jornalística. Pode ser uma coluna ou artigo, mas não matéria.

Os critérios de noticiabilidade podem sofrer leves diferenças de jornal para jornal, conforme sua linha editorial, mas o padrão é praticamente o mesmo.

Proximidade
Uma notícia é mais interessante quando existe maior proximidade com o público leitor. Para quem mora em Brotas, um acidente de carro na China, não é tão interessante quanto um acidente de carro em Brotas.
Certa vez, trabalhando numa rádio comunitária, tentei explicar isso para a proprietária, mas ela não achou certo. Claro! Ela não era jornalista. O resultado foi um trabalho desinteressante onde só repetíamos o que todo mundo já sabia. Não havia ‘furo’ porque é impossível dar uma novidade nacional em um veículo local. Se tivéssemos priorizado as notícias locais, poderíamos desenvolver uma programação dinâmica com entrevistas, debates e mesas redondas. Mas mantemos uma programação de ‘papagaio’ em nome da notícia nacional.

Um acidente aéreo no Japão, então, não é importante? Evidente que sim, mas as informações equivalentes são ‘desempatadas’ no fator proximidade.

Outro exemplo. Certamente, um carioca apaixonado pelo futebol vibra mais com os jogos do Campeonato Brasileiro do que com os jogos da Champions League da Europa, embora o torneio europeu seja mais prestigiado. Isso porque você vive no Brasil.

Atualidade
Acho que aqui as coisas são mais fáceis de entender. Quanto mais atual uma informação, mas interessante ela é. No entanto, é preciso uma observação. Uma descoberta recente sobre um acontecimento mais antigo entra no critério de notícia atual. Por exemplo, cobrir uma descoberta de documentos sobre o regime militar brasileiro na década de 70 é importante porque traz novas informações, até então desconhecidas. Se descobrirem um dinossauro no centro de São Paulo terá grande impacto noticioso. Em alguns casos, o importante é quando a informação veio à tona e não quando ela ocorreu.

Outro exemplo. Se foi descoberto que os dinossauros na verdade tinham seis patas, a informação é bem interessante e deve ser publicada, pois é uma informação nova.

Sujeitos envolvidos
Aqui estamos falando de proeminência social. A presença do prefeito em uma reunião é mais importante que a presença da maioria ali, inclusive a sua. Um astro do rock morto em um acidente de carro é mais noticioso que a morte de um desconhecido.

Isso também é fácil de perceber quando atores e atletas são assaltados. Na Virada Cultural deste ano, por exemplo, foi roubada a carteira do Eduardo Suplicy. O caso foi anunciado no palco, e logo a carteira foi devolvida. Se fosse comigo, ou contigo, aconteceria o mesmo? Evidente que não.

Casamentos, separações e traições de famosos é outra forma fácil de percebermos isso.

Pode-se dizer que este critério também é muito utilizado para nações e cidades. Assassinatos nos Estados Unidos são notícias com mais frequência que os ocorridos na índia ou Austrália.

Imprevisibilidade e negatividade
Quanto mais fora do comum um fato, maiores suas chances de se tornar notícia. É só lembrar daquelas matérias do Jornal Hoje: urso panda nascendo, astro do rock que cozinha nas horas vagas, malabarista que virou prefeito. Como diria ‘o outro’, um homem puxando um cachorro pela coleira não é notícia, mas um cachorro puxando um homem pela coleira é.

Gostando ou não os fatos negativos sempre são tratados com certa prioridade nas redações. A queda de um ministro será mais noticiado que sua nomeação. Quanto mais um acontecimento se desvia do comportamento padrão, maior a possibilidade de se tornar notícia.

Continuidade
O desenvolvimento das informações, suas desdobras, é notícia também. Se você anuncia um jogo que acontece nesta noite, seria sensato anunciar no dia seguinte o resultado.

Logística
Pode parecer bobo, mas é verdade. Quanto mais fácil de cobrir uma notícia, mas provável que ela seja realizada. Já cansei de ver pautas caindo por falta de carro ou de fotógrafo. Se for para a TV então.
Notícias mais fáceis de serem produzidas normalmente ganham a preferência nas pautas.


Basicamente, com esses critérios, podemos começar a entender o que pode tornar um fato notícia ou não. Estes critérios também podem ser chamados de ‘valor-notícia’. Alguns autores preferem este termo.
Para terminar, gostaria de mencionar que Van Dijk enumera a questão ‘valor notícia’ da seguinte forma:
1) novidade;
2) atualidade;
3) pressuposição (a avaliação da novidade e atualidade pressupõe conhecimentos prévios; além disso, segundo o autor, os  acontecimentos e os discursos só seriam perceptíveis mediante o recurso a informação passada);
4) consonância com normas, valores e atitudes compartilhadas;
5) relevância (para quem recebe a informação);
6) proximidade (geográfica, social e psicoafetiva)
7) desvio e negatividade (psicanaliticamente, a atenção ao crime, aos acidentes, à violência, etc., funciona como um sistema emocional de autodefesa: ao contemplarem-se expressões dos nossos próprios temores, o fato de serem outros a sofrer com as situações proporcionar-nos-ia tanto alivio como tensão).

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