Dando continuidade ao assunto Espiral do Silêncio, gostaria de dedicar algumas linhas para apontar como o Estado se baseia na opinião pública. Percebo muito, principalmente agora em tempos de eleições, que as propostas políticas se baseiam mais na opinião pública que no que deve ser feito de fato.
Para ganhar o eleitor, o político discursa em cima do que a população gosta de ouvir. Para isso eles se baseiam na opinião pública.
David Hume tem um importante trabalho sobre o assunto – Tratado da natureza humana – no qual diz que o ser humano vai se moldando conforme as opiniões que o circundam, assim, “a opinião é essencial para os assuntos de estado”. Ainda de acordo com o pensador, “o poder concentrado de opiniões semelhantes mantidas por pessoas particulares produz um consenso que constitui a base real de qualquer governo”.
Pesquisas de opinião
Você já deve ter reparado que em épocas eleitorais, as pesquisas de opinião não podem ser mais divulgadas a partir de determinada data. Na verdade nem deveriam existir, mas já que existem devem ser mascarada. Vou explicar melhor o porquê; e tem tudo a ver com a Teoria do Espiral do Silêncio.
De acordo com a teoria, as pessoas tende a acompanhar a opinião da maioria, em especial quando não têm uma opinião formada. Daí, a importância das pesquisas políticas. Elas representam uma pequena, quase nula, opinião pública. Por exemplo, em São Paulo, com milhões de eleitores, essas pesquisas entrevistam mil, duas mil pessoas. Aquelas que ainda não tem opinião sobre o candidato irá acompanhar a pesquisa e votar naqueles que estão na ponta.
Os indecisos tenderão a seguir a maioria “vencedora”. Por isso, as pesquisas de opinião nas eleições têm fortes influências sobre os resultados. Principalmente em países de “analfabetos políticos”, que eu posso até exemplificar com o próprio Brasil.
Pontos divergentes da hipótese
Alguns pesquisadores e estudiosos realizaram vários testes para confirmar ou refutar a teoria da Espiral do Silêncio, dos quais podemos ressaltar os resultados mais importantes.
Em 1990 Tony Rimmer e Mark Howard realizaram um estudo no sul de Indiana e iniciaram com três hipóteses.
1. Quem utiliza mais a mídia sabe avaliar melhor a opinião das pessoas do que aquelas que utilizam menos a mídia
2. Quem utiliza mais a mídia saberia dizer melhor se está ou não acompanhando o pensamento da maioria
3. A importância de um fato é mais relevante, ou não, que a divulgação da mídia
Os estadunidenses avaliaram um problema local e entrevistaram 348 pessoas. Para surpresa, foi constatado que as pessoas que utilizam as mídias em médio nível eram as que conheciam melhor a opinião dos outros e sabiam melhor o seu posicionamento frente às demais opiniões. Contrariando assim a hipótese da Espiral do Silêncio.
No entanto o estudo levantou alguns dados importantes. Mostrou que os leitores de jornais conhecem melhor a realidade que os telespectadores. Outra observação importante é que a comunicação intrapessoal deixa a pessoa com uma melhor avaliação de sua própria opinião em relação ao todo. Quem tenta realisar essa autoavaliação somente com ajuda das mídias tentem a se enganar mais.
Os pesquisadores também perceberam que na Europa é feita uma leitura muito mais crítica que nos Estados Unidos.
Para Mauro Wolf, a principal contribuição da teoria de Elisabeth Noelle-Neumann é perceber que os mídia não servem apenas para “representar as tendências de opinião pública, mas que, ao contrário, lhes conferem concretamente forma e desenvolvimento”.
A teoria revela-se rica em alternativas de estudo, apesar de contravertida. Como Clóvis de Barros Filho levanta.
Já Charles Salmon e Gerald Kline ressaltam que a teoria não evidencia até que ponto o medo ao isolamento faz um sujeito se posicionar sobre determinados temas.
Bem, se sabemos que a mídia não é uma agulha hipodérmica, também não é inofensiva. A teoria da Espiral do Silêncio, apesar das controvérsias, trouxe novos pontos importantes para os estudiosos da relação mídia-público-sociedade.
A espiral do silêncio mostra uma sociedade com medo de apresentar opiniões divergentes do que a mídia e a grande massa da população defendem. O receio presente nessa minoria formadora de opinião mostra que pessoas com diferentes opiniões não são inseridas na sociedade como as outras, mostrando um bloqueio de expressão de pensamentos.
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