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quarta-feira, 25 de julho de 2012

Espiral do silêncio - Parte 3


Dando continuidade ao assunto Espiral do Silêncio, gostaria de dedicar algumas linhas para apontar como o Estado se baseia na opinião pública. Percebo muito, principalmente agora em tempos de eleições, que as propostas políticas se baseiam mais na opinião pública que no que deve ser feito de fato.

Para ganhar o eleitor, o político discursa em cima do que a população gosta de ouvir. Para isso eles se baseiam na opinião pública.

David Hume tem um importante trabalho sobre o assunto – Tratado da natureza humana – no qual diz que o ser humano vai se moldando conforme as opiniões que o circundam, assim, “a opinião é essencial para os assuntos de estado”. Ainda de acordo com o pensador, “o poder concentrado de opiniões semelhantes mantidas por pessoas particulares produz um consenso que constitui a base real de qualquer governo”.

Pesquisas de opinião
Você já deve ter reparado que em épocas eleitorais, as pesquisas de opinião não podem ser mais divulgadas a partir de determinada data. Na verdade nem deveriam existir, mas já que existem devem ser mascarada. Vou explicar melhor o porquê; e tem tudo a ver com a Teoria do Espiral do Silêncio.

De acordo com a teoria, as pessoas tende a acompanhar a opinião da maioria, em especial quando não têm uma opinião formada. Daí, a importância das pesquisas políticas. Elas representam uma pequena, quase nula, opinião pública. Por exemplo, em São Paulo, com milhões de eleitores, essas pesquisas entrevistam mil, duas mil pessoas. Aquelas que ainda não tem opinião sobre o candidato irá acompanhar a pesquisa e votar naqueles que estão na ponta.

Os indecisos tenderão a seguir a maioria “vencedora”. Por isso, as pesquisas de opinião nas eleições têm fortes influências sobre os resultados. Principalmente em países de “analfabetos políticos”, que eu posso até exemplificar com o próprio Brasil.

Pontos divergentes da hipótese
Alguns pesquisadores e estudiosos realizaram vários testes para confirmar ou refutar a teoria da Espiral do Silêncio, dos quais podemos ressaltar os resultados mais importantes.

Em 1990 Tony Rimmer e Mark Howard realizaram um estudo no sul de Indiana e iniciaram com três hipóteses.

1. Quem utiliza mais a mídia sabe avaliar melhor a opinião das pessoas do que aquelas que utilizam menos a mídia
2. Quem utiliza mais a mídia saberia dizer melhor se está ou não acompanhando o pensamento da maioria
3. A importância de um fato é mais relevante, ou não, que a divulgação da mídia

Os estadunidenses avaliaram um problema local e entrevistaram 348 pessoas. Para surpresa, foi constatado que as pessoas que utilizam as mídias em médio nível eram as que conheciam melhor a opinião dos outros e sabiam melhor o seu posicionamento frente às demais opiniões. Contrariando assim a hipótese da Espiral do Silêncio.

No entanto o estudo levantou alguns dados importantes. Mostrou que os leitores de jornais conhecem melhor a realidade que os telespectadores. Outra observação importante é que a comunicação intrapessoal deixa a pessoa com uma melhor avaliação de sua própria opinião em relação ao todo. Quem tenta realisar essa autoavaliação somente com ajuda das mídias tentem a se enganar mais.

Os pesquisadores também perceberam que na Europa é feita uma leitura muito mais crítica que nos Estados Unidos.

Para Mauro Wolf, a principal contribuição da teoria de Elisabeth Noelle-Neumann é perceber que os mídia não servem apenas para “representar as tendências de opinião pública, mas que, ao contrário, lhes conferem concretamente forma e desenvolvimento”.

A teoria revela-se rica em alternativas de estudo, apesar de contravertida. Como Clóvis de Barros Filho levanta.

Já Charles Salmon e Gerald Kline ressaltam que a teoria não evidencia até que ponto o medo ao isolamento faz um sujeito se posicionar sobre determinados temas.

Bem, se sabemos que a mídia não é uma agulha hipodérmica, também não é inofensiva. A teoria da Espiral do Silêncio, apesar das controvérsias, trouxe novos pontos importantes para os estudiosos da relação mídia-público-sociedade.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Espiral do Silêncio - Parte 02

Continuando os textos sobre a teoria da Espiral do silêncio, vamos agora explicar um pouco melhor o porquê deste nome.


A Espiral
Assim como uma figura espiralada, a construção da realidade que nos cerca é construída aos poucos e está em constante mudança. Novos assuntos, novos pontos de vista são apresentados a cada momento e assim construímos nossa realidade.

Com bases da Teoria do Agenda Setting, Elisabeth Noelle-Neuville percebe que novos assuntos nos são apresentados, em ritmo eternamente a se estreitar. Assim, uma opinião cada vez mais isolada tende a ser ainda mais não manifesta.

Algumas pesquisas realizadas ao redor do mundo apontam que quanto mais informada mais disposta está a pessoa a se manifestar sobre um assunto. Normalmente, reproduzindo opiniões de especialistas e líderes de opinião.

No entanto, levando em consideração aspectos sociais e culturais, em algumas sociedades a teoria é sustentada apenas parcialmente. O medo às autoridades, a apreensão ao que foi comunicado, conhecimento prévio do assunto e as próprias diferenças culturais moldam a expressão de opinião dos indivíduos.


Knowledge Gap
Ainda sobre a Espiral, se há uma mídia que faz o Agenda Setting, certamente, ela também dará um enfoque. Para cada tema, cada tópico da agenda, o veículo dará o seu enfoque a sua visão do assunto. No entanto para discutirmos qualquer assunto, nos sentimos mais à vontade quanto melhor o conhecemos.

Um indivíduo terá maior ou menor disposição para discorrer sobre qualquer tema conforme tenha mais ou menos conhecimento sobre tal. Se você pedir minha opinião sobre o time atual do São Paulo, certamente lhe darei uma resposta bem completa. Se me perguntares sobre o time atual do São Caetano, não terei muito o que dizer.

Nosso conhecimento macrossocial é construído em intervalos de conhecimento de absorção de informação obtida por grupos bem ou mal preparados. A absorção de informação também depende do grau de instrução e nível socioeconômico do receptor.

Podemos resumir dizendo que as pessoas mais instruídas são menos influenciáveis aos meios de comunicação, já que possuem mais fontes de informações.

A Teoria do Knowledge Gap ainda contém inúmeras outras variáveis, por isso, dificilmente pode ser comprovada. Há muitos estudiosos que sequer a consideram, por isso, prefiro não me aprofundar. Vamos voltar a focar outros aspectos da Espiral do Silêncio.

O silêncio
Está meio confuso? Vamos exemplificar. Certamente na escola você já ouviu a professora perguntar “alguém tem alguma dúvida” e mesmo não entendendo nada, você não levantou a mão porque não queria ser o único. Outro exemplo fácil de comprovar. Pergunte a qualquer mulher que pouco entenda de futebol qual o maior jogador de todos os tempos. Sem titubear ela responderá Pelé – a não ser que seja argentina aí ela deve responder Maradona – mas o que ela vai manifestar é o que ouve ao redor. Ela nunca se aprofundou sobre o assunto para responder com tanta convicção;

Tomamos por certo o que pensamos que a maioria pensa. Como exemplo mais recente, podemos averiguar o que nossos amigos pensam sobre o governo de Lula – tirando os partidários, filiados, etc. Sabemos que Lula foi o presidente mais popular do país, assim, certamente poucos criticarão seu governo. Mesmo os que o fizerem farão com respaldos, pois não querem estar contra a opinião da maioria.

Se pensamos que a mídia não influencia nosso pensar, devemos pensar da seguinte forma. Fazer exercícios físicos uma vez ao dia molda o corpo. Comer mal frequentemente também. Ler e escrever uma ou duas horas por dia molda nosso pensar. E assistir televisão duas ou três horas por dia não vai mudar nossa visão de mundo? Passar horas a fio no computador não vai mudar nossa percepção de sociedade? É evidente que sim. E isso tem tudo a ver com esta teoria

Para Elisabeth Noelle-Neumann o medo do isolamento é mais forte que o medo do julgamento. De acordo com estudos realizados, a maioria das pessoas acomoda-se com o que pensam ser a tendência de opinião da maioria.

Acredito que no próximo texto concluiremos o assunto. Trata-se de uma teoria muito bem aceita e abordada pelos centros acadêmicos. Também já respondi algumas questões de concurso público sobre o assunto, por isso, se aprofunde no tema.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Espiral do silêncio - Parte 01


Uma das hipóteses científicas sobre Comunicação de maior sucesso é a chamada “espiral do silêncio” desenvolvida em 1972 pela alemã Elisabeth Noelle-Neumann. Trata-se de um conceito amplamente aceito e estudado nos centros acadêmicos; não só na área de Comunicação, mas pela psicologia, antropologia e diversos outros campos.

Segundo os estudos da alemã, em certas ocasiões as pessoas se sentem acuadas, com medo de manifestar sua opinião, especialmente quando a opinião parece ser contrária ao que a maioria pensa; ou contrária ao que a pessoa acha que a maioria pensa. O medo do isolamento social nos leva a seguir o que a maioria faz, fala ou pensa. Por isso, em determinadas ocasiões o sujeito manifesta uma opinião que na verdade não está realmente formada e até contrária ao que ele mesmo de fato acredita.

Elisabeth tomou como ponto de partida os conceitos de percepção seletiva e acumulação – que estavam sendo colocados em evidência pelos estudiosos da hipótese do Agenda Setting.

Pesquisando pesquisas
Os mais pedantes perdoem-me pela expressão, mas os estudos se iniciaram quando a alemã analisava algumas pesquisas do Instituto Allensbach sobre a visão dos alemães sobre as qualidades do próprio povo alemão.

Ela percebera algumas oscilações nas respostas bem curiosas. Em vinte anos – 1952-1972- a visão negativa sobre os alemães (como explicado acima, por eles mesmos) subira de 4%  para 20%. Em apenas quatro anos a percentagem caíra para 14% e, o mais incrível, em alguns meses subira para 22%.

Foi quando Elisabeth resolveu estudar os programas televisivos veiculados neste período. Foi o ponta pé inicial de sua nova teoria. Confirmando que as mídias de fato influenciavam sobre “o quê pensar”, como levantado nos estudos sobre o Agenda Setting.

Ficou comprovado que a influência da mídia sobre o pensamento da massa não era tão tênue. Talvez não fosse tão forte como propunha a teoria da Agulha Hipodérmica, mas a médio e longo prazo, realmente era perceptível.

Inúmeros estudos foram realizadas pela alemã para desenvolver sua ideia.

Pressupostos
Segundo a própria pesquisadora, o mais interessante em sua nova teoria é a capacidade das pessoas constatarem o que ela batizara de “clima de opinião”. Ou seja, ao perceberem o que a maioria pensa – ou aparentemente a maioria pensa – a primeira reação é se calar para depois se adaptar e até mudar de opinião, para seguir a maioria.

A obra Teorias da Comunicação. Conceitos, escolas e tendências destaca como os principais pressupostos desta teoria:
1. A sociedade ameaça os indivíduos desviados com o isolamento
2. Os indivíduos estão sempre com medo de ficarem isolados
3. É este medo que leva os indivíduos a tentarem, constantemente, avaliarem o “clima de opinião”.
4. O que os indivíduos perceberem neste “clima de opinião”  irá influenciar seu comportamento, principalmente na expressão pública, fazendo-os se calarem ou até expressarem opiniões contrárias às suas próprias convicções.

Próximos posts
Acredito que serão necessários mais uns dois posts sobre o assunto para termos uma noção mais clara sobre esta inteligente teoria. Acredito que até o início de julho outros dois textos serão publicados.

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