segunda-feira, 7 de abril de 2014

Estrutura de uma notícia

Já escrevi um post sobre o que é notícia, neste texto vamos identificar os elementos que compõem uma notícia. Poderíamos resumir uma notícia em duas partes principais, o lide (lead) e o corpo. Além destes elementos, o título é uma parte essencial da notícia. Podemos acrescentar, ainda, elementos como fotografia, gráfico, linha, olho e outros recursos que podem ser adicionados ou não. A fórmula “título + lide + corpo” é a básica, mas sempre que possível, cabe ao jornalista e editor complementarem a informação com outros recursos. Afinal, nem sempre uma notícia pode ser bem compreendida apenas com textos, além disso, os recursos adicionais chamam a atenção do leitor e facilitam a leitura da informação.

Lide (lead)
O lide tem a função primordial de captar a atenção do leitor. É a chance que o jornalista tem de mostrar ao leitor que aquela notícia é importante. O lead é o primeiro parágrafo do texto, que deve responder às questões básicas para deixar o leitor bem informado, mesmo se optar por não ler o resto do texto.

Basicamente, o lide deve responder às seis questões básicas: o que, quem, onde, como, por que, quando. No entanto, o jornalismo moderno não se prende a estas questões. Nem sempre todas elas são respondidas no primeiro parágrafo. Dependendo da ocasião, responde-se às mais importantes antes, e as informações secundárias podem ser respondidas no parágrafo seguinte, que pode ser um sublead. 

Além disso, dependendo das informações contidas no título, linha fina ou chapéu, o lide pode dispensar algumas informações. O tempo e a experiência dão ao jornalismo a maturidade para saber trabalhar bem essas informações. Além disso, o trabalho dos editores também contribui para a elaboração de um bom textos. Eles vão perceber que informação está faltando ou se algum dado pode ser dispensado do lide.

Título
O título é outro elemento que, normalmente, é trabalhado pela equipe. Muitas vezes o título dado pelo jornalista é mudado no decorrer da edição do jornal, por inúmeros motivos. Os editores, editores de arte e diagramadores trabalham em conjunto na criação do design da página e isso pode gerar títulos diferentes.

Não é raro, principalmente em reportagens, a diagramação da página ser feita “em torno” do título, por isso, o título e a arte da página acabam sendo desenvolvidos em conjunto. Até a tipologia usada pode variar conforme o título.

Uma dica para criar títulos é usar os verbos no presente do indicativo para que o jornal não pareça velho. Por isso, lemos, por exemplo, “Brasil vence...” – “Polícia prende...” e não “Brasil venceu...” – “Polícia prendeu...” 

Linha fina
A linha fina está cada vez mais presente nos jornais modernos, isso porque a leitura da linha fina agiliza a compreensão da notícia. O leitor de jornais não tem tempo para ler todos os lides do jornal, e a linha fina auxilia o leitor a compreender o contexto da notícia. A linha fina também é chamada de subtítulo em alguns veículos.

A linha fina deve completar a informação do título. Normalmente é escrito sem pontos. Alguns jornais pecam ao usar a linha fina apenas por estéticas e acabam criando textos desinteressantes e que não captam a atenção do leitor. Um desperdício de espaço.

Chapéu
O chapéu no jornalismo é fácil de identificar, pois é uma frase ou expressão que identifica o assunto ou o personagem central. Também auxilia no desenvolvimento da matéria, facilita o entendimento do leitor e deve sempre trabalhar em conjunto com título e linha fina. Por exemplo, um chapéu com a expressão “U$ 50 milhões” facilita o entendimento de um título “Barcelona acerta compra de Ronaldo”. Só de ler título e linha fina, o leitor já sabe as informações mais importantes da notícia. A linha fina ainda poderia conter informações como tempo de contrato para deixar o leitor bem informado mesmo sem tempo para ler o resto na notícia.

Retranca
Esta ferramenta é utilizada no corpo do texto. Conforme a matéria é escrita, o jornalista pode perceber que o texto está muito longo e “quebra-lo” pode ser uma forma de deixa-lo menos pesado. A retranca é uma palavra que identifica o assunto do texto a partir daquela parte. Por exemplo, um texto falando de um problema no pronto-socorro municipal pode ter a retranca “Resposta” para identificar que no parágrafo seguinte há uma resposta dos responsáveis.

A retranca é utilizada em reportagens e textos mais longos para dar uma identidade visual mais agradável.

Olho
O olho em jornalismo é uma expressão que designa uma frase destacada do texto. O olho é colocado no meio do texto com letras maiores para dar ênfase a uma frase da matéria. Por exemplo, se a notícia é sobre a derrota de um time e o treinador declara que “sabíamos que perderíamos antes do jogo começar”, a fala do treinador merece destaque. Os editores abrem um espaço no texto, como um elemento gráfico, e colocam esta frase em uma fonte com tamanho maior.

O olho é outra forma interessante de atrair a atenção do leitor, pois nem sempre é possível destacar no título ou lide uma frase de impacto.

Legenda e texto-legenda
Pode não ser perceptível mas existe uma diferença entre legenda e texto-legenda. A legenda, como sabemos tradicionalmente, é um texto que complementa as informações de uma fotografia. Já o texto-legenda é um pouco maior, normalmente, usa-se um quadro junto à fotografia.

Em um próximo texto quero falar um pouco sobre os elementos gráficos de uma matéria, como fotografia, gráfico e ilustração.  

terça-feira, 4 de março de 2014

Collor venceu as eleições graças ao seu marketing político

A história do marketing político, ou melhor do marketing eleitoral, tem um capítulo muito importante nas eleições presidenciais de 1989. A disputa presidencial de 89 foi intensa, com muitos candidatos, discursos de acusação e 'dedos apontados' para todos os lados. Polêmicas a parte, as eleições de 89 merecem um destaque no estudo do marketing, mesmo porque o vencedor das eleições, Fernando Collor de Mello, não era apontado como um dos favoritos antes do inicio da campanha eleitoral.

Desde 1960 os brasileiros aptos a participar não haviam escolhido um presidente da república. As eleições de 89 tiveram 22 candidatos. Até o apresentador Sílvio Santos saiu candidato (porém sua candidatura fora impugnada). Os partidos eram novos e não tinham argumentos ou iniciativas próprias para as alianças tão comuns nas eleições mais atuais. Poucos partidos se dispuseram às coligações. Para se ter ideia, foram para o segundo turno Collor e Lula, com apenas 28,5% e 16% dos votos válidos respectivamente.

Material
Na campanha eleitoral de 89, Collor, além dos brindes tradicionais da época, como chaveiros, camisetas e adesivos, utilizada a bandeira do Brasil com a frase "Collor é progresso" escrita na faixa central.

Collor usava as cores verde e amarelo no seu nome, nas letras LL, de Collor, uma referência à JK, que também utilizou seu nome como marca. Com os dedos, o candidato também fazia referência aos eles de seu nome.

O slogan "O caçador de marajás" marcou sua campanha e a notícia de ter cobrado U$ 140 milhões do Bando do Estado de Alagoas, referente aos usineiros do estado foi explorado com eficiência por seus marketeiros políticos.

Rádio e Telefone
Poucos candidatos deram importância à campanha radiofônica. Lula e Collor foram um dos poucos a investir no rádio. Pois esta era uma excelente forma de alcançar, por exemplo, eleitores analfabetos, ou alguns tipos de trabalhadores que passam o dia ouvindo rádio.

Outro investimento inovador foi a utilização de uma linha telefônica na qual os eleitores podiam ligar e entrar em contato direto com sua campanha. Os eleitores, ganhavam, inclusive, um kit de adesivos pelos correios.

Sentimentalismo
Acredito que ainda hoje a maioria da população brasileira vota no candidato mais pelo carisma destes do que pela competência em si. E Collor percebeu isso já naquela eleição e realizava discursos mais emocionais e sempre se colocava como uma pessoa de sentimentos e mais 'humano' que os demais candidatos.

Usava a 'fantasia' de defensor da moralidade e utilizava resultados de pesquisas para discursar aquilo que era necessário no momento.

Na TV
Fernando Collor de Mello fez um belo trabalho na televisão durante a campanha presidencial de 89. Um exemplo que merece destaque foi sua campanha no segundo turno. Seu rival Lula utilizava alguns artistas para apoiar sua campanha, enquanto ele utilizava pessoas comuns, dizendo que o artista do Brasil é o brasileiro.

Falando ainda sobre o primeiro turno das eleições de 89, vale ressaltar que, curiosamente, Collor não participou dos debates acalorados do primeiro turno, em nenhuma emissora. Foi um dos maiores críticos que Lula já teve, para muitos, o maior de todos, pois o acusava constantemente e usava termos fortes para acusar Lula.

Matinha sempre uma imagem de 'cara educado' com discursos bem falados e de boa oratória.

Muitos estudiosos, como Carlos Manhanelli, atribuem à campanha na TV como importante instrumento para a vitória de Collor no segundo turno, com dois fatos importantes.

O primeiro fato importante foi Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula, declarando que Lula teria forçado o aborto de sua filha Lurian, acusando-o de ser, inclusive, racista.

Outro fato relevante, e que tem até a ver com a ética jornalística, foi a edição do Jornal Nacional após o último debate entre os candidatos no segundo turno. A edição foi amplamente favorável ao candidato Collor. Mais tarde, Boni, manda-chuva da Rede Globo, confessa manipulação do debate. O debate completo, com mais de duas horas de duração, pode ser vista através do site Youtube.

Para muitos, até hoje, Collor foi o que melhor soube explorar o marketing a seu favor.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Moderar comentários é censurar?

Com o avanço das mídias digitais, a participação do leitor se tornou mais rápida e eficiente que em tempos de mídia impressa ou até mesmo eletrônica. No início da internet os comentários eram publicados quase que instantaneamente, com o passar dos tempos, percebeu-se a necessidade de uma triagem nos comentários, que passaram a ser encaminhados para o "tal" moderador.

Mesmo em rádio e televisão com participação ao vivo, não há tantos comentários como na internet, onde milhares de pessoas podem comentar ao mesmo tempo e em épocas diferentes, não apenas durante um determinado programa, como em rádio e tv. Vale lembrar que o leitor da internet pode fazer um comentário mesmo após meses e até anos da publicação, o que facilita a participação plural.

Na Europa
Há alguns meses, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que as grandes mídias são responsáveis, inclusive pelos comentários de seus usuários. Assim, por exemplo, se você quser fazer um comentário racista em uma matéria do jornal alemão Bild, o jornal não pode culpá-lo exclusivamente pelo o que você escreveu. O jornal também deve assumir sua culpa por autorizar a publicação do comentário.

Sob o argumento de que a liberdade de expressão não pode ser maior que a honra de um terceiro, o Tribunal tomou a decisão de tornar os sites responsáveis pelos comentários. Outro argumento usado é que é muito mais difícil localizar um usuário que os responsáveis pelo site, principalmente quando o site possibilita comentários por anônimos. Mesmo exigido um login, não é difícil alguém criar um fake (perfil com dados falsos), o que torna a busca pelo autor mais difícil.

Levando o assunto para lados mais polêmicos, há quem diga que tal decisão pode deixar os sites das grandes mídias europeias com um grau de censura ainda maior. O mesmo cuidado que um jornal tem ao publicar uma matéria, agora deve ter com o comentário que será publicado.


Os mesmos critérios de noticiabilidade agora precisam ser toamdos também com os comentários de seus leitores. O problema é que não se pode cobrar dos leitores os conhecimentos técnicos e éticos que se cobra de um profissional de comunicação.

Redes Sociais, Blogs, Fóruns...
Na teoria, na minha visão, o conceito está mais que certo, no entanto, na prática, isso deve ser melhor estudado e elaborado. O princípio cru de que a honra deve ser respeitado acima da libedade de expressão pode interferir em conteúdos e comentários feitos em blogs, fóruns e até redes sociais.

Imagine um site com fóruns ou um blog cheios de comentários como este (só que não kkk) sendo responsabilizado pelo conteúdo postado por terceiros. Se a moda de processos e julgamentos para sites, blogs e portais  pega, a tendência é que as empresas restrinjam cada vez mais a participação do internauta.

Os mais radicais podem alegar o contrário: tanta moderação não passa a ser um tipo de censura? Você proibir que leitores comentem uma notícia é viável, legal, ou moral. Há até quem diga que "o melhor das notícias são os comentários".

Não acho que isso (onda de processos de pessoas que se sentem prejudicadas contra sites) vá ocorrer, mas é uma questão interessante para pensar. Os sites devem se responsabilizar por conteúdo postados por terceiros? Até que ponto vai esta responsabilidade pelos comentários?

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