sexta-feira, 18 de outubro de 2013

O lide (lead) e seus tipos

Uma das primeiras lições que aprendemos no curso de jornalismo é sobre o lide (lead, em inglês). Estamos nos referindo ao texto introdutório de todas as matérias. Não apenas na escrita, mas em todas as mídias. É o que deve chamar a atenção do receptor. Deve conter as informações essenciais da matéria. Também há quem classifique o lide como um gênero jornalístico, o mais comum.

Basicamente, diz-se que o lide deve responder às questões básicas: o quê, quem, quando, onde, por que e como. Também conhecido como os seis "Q's", apesar de 'como' e onde' não possuírem a letra, mas fica mais fácil aprender assim. Além disso, no inglês, esta técnica é conhecida como os seis W's (what, who, when, where, way e how). Evidentemente, que nem sempre é necessário que todas esses itens precisam ser respondidos. Também há ocasiões em que uma dessas informações seja irrelevante. Neste caso, não é necessário que ela esteja no lide. Pode estar no corpo do texto.

As duas funções básicas do lide são: informar e atrair o leitor. Um texto bem construído pode poupar muito tempo do leitor, que decidirá se continua a ler ou não. Além disso, em dias corridos como os atuais, evita que o leitor perca tempo lendo algo desnecessário, mas só descobre isso após ler toda a notícia. Por outro lado, faz que o leitor perceba que aquela notícia é realmente interessante para ele.

Técnicas
Não apenas no lide, mas até mesmo no título e no decorrer do texto, é preferível a utilização do texto direto, com verbo no presente do indicativo. O texto deve ser objetivo. Por exemplo: "O Brasil joga amanhã" e não "o Brasil jogará amanhã".

O primeiro parágrafo, ou no máximo os dois primeiros, devem conter as informações necessárias para que o leitor entenda do que está sendo informado. O texto restante é um aprofundamento para quem desejar obter informações mais detalhadas. É quase uma propaganda da própria notícia.

A ordem das informações não são as mesmas sempre. Evidentemente, mudam de acordo com a importância de cada notícia. Além disso não é necessário ficar 'bitolado' pelos seis Qs. Com o tempo, aprende-se a desenvolver o texto sem pensar tanto nessa questão.

Documentários, reportagens mais longas, e fait divers, não precisam seguir o lide tradicional por serem um gênero jornalístico mais leve (soft news).

Pirâmide invertida
Assim como o lide, a técnica da pirâmide invertida é uma lição básica do jornalismo. Lide e pirâmide invertida estão ligadas.

Esta técnica consiste em apresentar as informações mais importantes no início do texto. As informações supérfulas vão indo para o final do texto.

Alguns estudiosos de comunicação não acreditam ser esta a melhor maneira de apresentar uma matéria, mas o decorrer dos anos provam que esta é sim a melhor forma de desenvolver o texto jornalístico. Com esta técnica, os editores podem realizar os cortes necessários sem que o redator precise reescrever o texto.

No meu caso, inclusive, muitas vezes saí da redação sem que os editores tivessem lido meus textos. Mas sempre realizaram os cortes necessários sem precisarem reescrever tudo.

Posso dizer que, ao contrário do que é feito em livros e filmes, o climax de uma notícia deve estar no começo. Os pormenores ficam para o meio e final.

É indispensável que o jornalista domine essas técnicas para escrever. Ninguém fica duas ou três horas lendo jornais todos os dias (talvez a equipe de clippagem, mas isso é outra história). Mas muitos leem algumas partes de diversas matérias. Ler apenas o lide de muitas matérias, para a maioria, é melhor que ler uma ou outra matéria por inteiro.

O domínio da escrita também desenvolve o jornalista a captar as informações necessárias para cada texto, não perdendo tempo correndo atrás de informações que não serão publicadas.

Exemplos
Segue alguns exemplo de bons lides retirados do site do Estadão.

As mulheres se envolvem cada vez mais no tráfico e uso de cocaína e crack em São Paulo. Os dados, divulgados ontem pela polícia paulista, revelam que, das 980 pessoas presas em flagrante no ano passado, 229 eram mulheres. "Elas começam a fumar crack ou a cheirar cocaína em festas com os amigos ou namorados", revelou o delegado Fernando Vilhena. "Quando o fornecedor desaparece, passam a roubar e a fazer de tudo para conseguir a droga."

A que foi classificada como "a nevasca do século" nos Estados Unidos matou pelo menos 100 pessoas e bloqueou aeroportos, estradas e edifícios com uma camada de até 80 centímetros de neve. A tempestade obrigou as autoridades a fechar seis aeroportos e a declarar estado de emergência em seis Estados. Em Nova York, 18 pessoas ficaram intoxicadas pelo monóxido de carbono: o gelo obstruiu os canos de escapamento dos carros.

Exemplo de lide mal construído: 
Policiais de Osasco, na Grande São Paulo, esclareceram ontem o desaparecimento de Margarida Almeida de Souza, de 19 anos, filha de um empresário da cidade. No começo de março, ela saiu de casa para morar com o namorado Álvaro de Andrade Silva, de 23 anos, viciado em cocaína e maconha, e não deu mais notícias.

O Estadão recomenda que o trecho acima fosse escrito da seguinte forma:
Filha de um empresário de Francisco Morato, na Grande São Paulo, e desaparecida desde março, Margarida Almeida de Souza, de 19 anos, foi morta pelo namorado, Álvaro de Andrade da Silva, de 23 anos, em Miracatu, no Vale do Ribeira. Silva, preso anteontem por policiais de Osasco, alegou ter cometido o crime porque queria voltar a morar com a mulher e Margarida ameaçava denunciá-lo por causa do envolvimento dele com drogas.

O assunto não é tão simples como parece. Este BLOG, por exemplo, lista 32 tipos de lides.

Um exercício simples para aprimorar essas técnicas é pegar lides de grandes jornais e tentar reescrevê-los utilizando as mesmas informações, mas apresentando um texto diferente.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O caminho da notícia até o leitor

Sabe-se que uma matéria jornalística deve ser realizado com imparcialidade. Ouvir todas as partes e contruir uma notícia desprendida de pessoalidade. Já escrevi, pelo menos, dois textos interessantes sobre o assunto. Um fala que o jornalista relata a história, não a contrói. Outro texto fala das características da notícia. A apresentação da notícia como produto final tem um longo processo.

A informação que você vê um jornal na televisão, ou lê uma matéria nos jornais, revistas e sites, já passou por um longo percurso, o que nos faz perceber que a imparcialidade total não existe. Tudo começa pela simples escolha do que será notícia.

Pauta
A primeira fase de uma matéria é a pauta. Os diretores, chefes e jornalistas decidem quais matérias serão produzidas. Esta simples seleção já é um filttro. Decidir que vamos falar do Neymar e não do atleta da equipe brasileira de pentatlon moderno já é uma 'parcialidade'. Ao escolher uma determinada matéria a ser produzida, leva-se em consideração o impacto que terá em todos os interessado (stakeholders).

Um jornal de assessoria vai levar em consideração sempre a possibilidade de se criar uma imagempositiva do assessorado.

Colocar a pauta na agenda de matérias a serem produzidas também envolve recursos humanos. A logística de pessoas necessárias para a cobertura, como motoristas, fotógrafos, horários, e até mesmo as demais matérias pautadas para o dia.

Ângulo, prioridade
Depois, vem o enfoque da notícia. Podemos falar que mais uma rua foi recapeada, ou destacar os números gerais da administração pública neste tipo de serviço. Devemos decidir qual deve ser o espaço desta matéria na página. Se haverá foto em destaque, se vamos entrevistas só os moradores da rua, ou um representante da secretaria responsável.

Em campo
Ao sair para realizar a matéria, o jornalista se mune de infomrações e já vai traçando possíveis perguntas e levantamento de informações. Em campo, ele também seleciona as pessoas que ai entrevistar e as perguntas que serão feitas. Muitas vezes, as entrevistas não são realizadas todas no local. Sempre se percebe que uma entrevista com fulano ou beltrano pode deixar o texto mais 'rico'.

Em campo, muitas decisões são tomadas e o público não tem controle sobre o jornalista para saber por que ele selecionou este ou aquele personagem. Raramente todas as informações cabem em uma matéria. Por que resolver divulgar esta informação e não outra.

Vou dar um exemplo fictício de como uma mesma informação pode ter enfoques diferentes. Nos últimos dez anos a criminalidade aumentou em números absolutos, mas caiu proporcionalmente ao aumento da população. Antes, a cidade tinha 100 mil habitantes e aconteciam cem crimes por mês, ou seja um crime para cada mil habitantes. Agora, são 300 mil habitantes, e cento e cinquenta crimes por mês, ou seja, um crime para cada 500 habitantes. Podemos destacar o aumento de crimes ou podemos destacar que, proporcionalmente, os crimes diminuiram.

Edição e chefia
O jornalista escolheu as entrevistas que vai usar, os dados que vai publicar e escreve a matéria. Ainda existe o trabalho dos editores. Eles podem cortar informações, tirar falas ou reescrever algumas partes do texto para ficar conforme as exigências dos stakeholders (interessados no produto).

Mas ainda não acabou por aí. Depois de todas as possíveis modificações, os chefes de redação ainda podem escolher quais textos poderão ser publicados e quais podem ficar na gaveta (para ser publicada em outra data), ou até mesmo descartar matérias, que nunca serão publicadas.

Ainda é dado 'peso' ao escolher quais matérias serão destacadas, quais terão chamadas de capa e quais ganharão infográficos e fotos.

Imparcialidade?
Com tantos interessados em uma notícia fica impossível dizer que os veículos de comunicação são imparciais em todos os sentidos. Devemos tentar identificar quais as principais forças (stakeholders) por trás desse ou daquele jornal, canal de tv ou site, para evitar que nosso conhecimento de mundo seja manipulado por jogo de interesses.

O jornalista, por sua vez, deve sempre buscar desenvolver uma matéria com valor-notícia para o seu público, desprendido de suas convicções pessoais, dando ao público o maior 'poder' possível de interpretar as informações e chegar às suas convicções.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Melhores filmes e seriados sobre jornalismo

Tenho que dizer que não assisti tantos filmes sobre jornalismo quanto gostaria. Fiz uma lista com apenas cinco filmes legais. Por incrível que pareça, me lembrei mais de seriados que assisti e gostei, por isso, completei a lista com alguns seriados. São filmes e seriados que valem a pena investir um tempinho para ver.

Como estou muito tempo sem postar nada, decidi escrever um post mais light. Como eu disse, não tenho uma longa lista para oferecer, se você quiser recomendar algum filme, ou seriado, fique à vontade. Outro detalhe é que não sou especialista em cinemas, então não vou ficar falando de atuação, fotografia... Vou começar pelos filmes. Confira meu Top 5.

5. O âncora
Pode não ser um filme genial, mas como adoro comédia e o ator Will Ferrel, este foi o primeiro filme que me veio à cabeça quando decidi fazer esta lista. O filme retrata um vaidoso apresentador de um telejornal que fica com inveja quando uma mulher o substitui e começa a fazer mais sucesso, decidindo fazer notícias mais relevantes. Pode parecer bobo, mas é interessante porque mostra o ego do jornalista. Bom para combater a tentação de o jornalista se sobressair sobre a própria notícia.


Um dos clássicos mais conhecidos na história da televisão. Assisti este filme há anos e nem me lembrava de muita coisa. Mas é um filme bem legal que retrata a vida de um magnata do jornalismo que antes de morrer diz a palavra 'Rosebud' (a mesma palavra usada no jogo The Sims para ganhar dinheiro facilmente). Um jornalista tenta descobrir o que isso significaria.


A velha questão sobre liberdade editorial é colocada neste filme. A ideologia de uma redação independente de pressões externas é muito bem abordada aqui.


Eu adorei este filme porque mostra uma antiga questão polêmica sobre a profissão: o que é mais importante, experiência ou formação teórica? Um experiente jornalista, de uma grande redação, fica com aquela dor de cotovelo ao ver uma professora ensinando jornalismo em um curso. A professora, por sua vez, defende que o conhecimento na sala de aula vai preparar melhor aquelas pessoas para iniciar a carreira jornalística.


Um excelente filme sobre um dos, se não 'o', casos mais importantes da história da profissão. O caso Watergate foi muito bem retratado e achei o filme bem legal. é um filme obrigatório para todo estudante de jornalismo.


Seriados
Alguns bons seriados que abordam o jornalismo e valem uma busca pela internet. Alguns programas, como 30 Rock, que abordam mais o funcionamento de uma rede de TV do que propriamente do jornalismo foram deixadas de lado.

Este seriado, vencedor de um Emmy, é exclusividade para assinantes Netflix. O foco maior é na política, mas achei interessante o papel de uma repórter na trama. A jornalista, sem perceber, acaba sendo manipulada por um político, que acaba utilizando a vaidade e ganância da jovem jornalista para fazer o que lhe é mais aceitável.


Este seriado passa na HBO e mostra de forma inteligente e bem real o cotidiano de uma redação. O seriado resgate um pouco da credibilidade norte-americana, que vem caindo em desmérito há anos.


Acompanhei este seriado de comédia nos anos 90, pela Sony. Mostra a rotina de uma repórter que mudou de tablóide e levou para sua equipe dois colegas de trabalho. Ainda apresenta uma visão nostálgica do trabalho jornalístico, numa época que pouco se usava internet e celulares.

2. Murphy Brown
Este era um dos meus seriados favoritos. Lembro até que passava às sextas-feiras, se não me engano, depois mudou para às quintas. A personagem principal trabalha como âncora e mostra de uma forma bem divertida a rotina de um programa jornalístico de tv. A atriz principal, Candice Bergen, ganhou cinco Emmys neste trabalho.



Um dos melhores seriados que eu já vi na minha vida. Aqui, estamos falando de um seriado que mostra a rotina de uma rádio. Tem o locutor arrogante, a locutora 'política' e o empresário excêntrico. Lembro de um episódeo no qual o dono da rádio finge que vai dar a volta oa mundo de balão, mas é tudo filmado. Bem típico desses milhonários que não sabem como gastar dinheiro e ainda aparecer na mídia. Muito bom.


Mesmo quem não tem interesse pela área, pode assitir este filmes e séries. São produções muito boas, com personagens marcantes e histórias bem criativas.

Você também vai gostar de ler

Posts indicados