terça-feira, 4 de março de 2014

Collor venceu as eleições graças ao seu marketing político

A história do marketing político, ou melhor do marketing eleitoral, tem um capítulo muito importante nas eleições presidenciais de 1989. A disputa presidencial de 89 foi intensa, com muitos candidatos, discursos de acusação e 'dedos apontados' para todos os lados. Polêmicas a parte, as eleições de 89 merecem um destaque no estudo do marketing, mesmo porque o vencedor das eleições, Fernando Collor de Mello, não era apontado como um dos favoritos antes do inicio da campanha eleitoral.

Desde 1960 os brasileiros aptos a participar não haviam escolhido um presidente da república. As eleições de 89 tiveram 22 candidatos. Até o apresentador Sílvio Santos saiu candidato (porém sua candidatura fora impugnada). Os partidos eram novos e não tinham argumentos ou iniciativas próprias para as alianças tão comuns nas eleições mais atuais. Poucos partidos se dispuseram às coligações. Para se ter ideia, foram para o segundo turno Collor e Lula, com apenas 28,5% e 16% dos votos válidos respectivamente.

Material
Na campanha eleitoral de 89, Collor, além dos brindes tradicionais da época, como chaveiros, camisetas e adesivos, utilizada a bandeira do Brasil com a frase "Collor é progresso" escrita na faixa central.

Collor usava as cores verde e amarelo no seu nome, nas letras LL, de Collor, uma referência à JK, que também utilizou seu nome como marca. Com os dedos, o candidato também fazia referência aos eles de seu nome.

O slogan "O caçador de marajás" marcou sua campanha e a notícia de ter cobrado U$ 140 milhões do Bando do Estado de Alagoas, referente aos usineiros do estado foi explorado com eficiência por seus marketeiros políticos.

Rádio e Telefone
Poucos candidatos deram importância à campanha radiofônica. Lula e Collor foram um dos poucos a investir no rádio. Pois esta era uma excelente forma de alcançar, por exemplo, eleitores analfabetos, ou alguns tipos de trabalhadores que passam o dia ouvindo rádio.

Outro investimento inovador foi a utilização de uma linha telefônica na qual os eleitores podiam ligar e entrar em contato direto com sua campanha. Os eleitores, ganhavam, inclusive, um kit de adesivos pelos correios.

Sentimentalismo
Acredito que ainda hoje a maioria da população brasileira vota no candidato mais pelo carisma destes do que pela competência em si. E Collor percebeu isso já naquela eleição e realizava discursos mais emocionais e sempre se colocava como uma pessoa de sentimentos e mais 'humano' que os demais candidatos.

Usava a 'fantasia' de defensor da moralidade e utilizava resultados de pesquisas para discursar aquilo que era necessário no momento.

Na TV
Fernando Collor de Mello fez um belo trabalho na televisão durante a campanha presidencial de 89. Um exemplo que merece destaque foi sua campanha no segundo turno. Seu rival Lula utilizava alguns artistas para apoiar sua campanha, enquanto ele utilizava pessoas comuns, dizendo que o artista do Brasil é o brasileiro.

Falando ainda sobre o primeiro turno das eleições de 89, vale ressaltar que, curiosamente, Collor não participou dos debates acalorados do primeiro turno, em nenhuma emissora. Foi um dos maiores críticos que Lula já teve, para muitos, o maior de todos, pois o acusava constantemente e usava termos fortes para acusar Lula.

Matinha sempre uma imagem de 'cara educado' com discursos bem falados e de boa oratória.

Muitos estudiosos, como Carlos Manhanelli, atribuem à campanha na TV como importante instrumento para a vitória de Collor no segundo turno, com dois fatos importantes.

O primeiro fato importante foi Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula, declarando que Lula teria forçado o aborto de sua filha Lurian, acusando-o de ser, inclusive, racista.

Outro fato relevante, e que tem até a ver com a ética jornalística, foi a edição do Jornal Nacional após o último debate entre os candidatos no segundo turno. A edição foi amplamente favorável ao candidato Collor. Mais tarde, Boni, manda-chuva da Rede Globo, confessa manipulação do debate. O debate completo, com mais de duas horas de duração, pode ser vista através do site Youtube.

Para muitos, até hoje, Collor foi o que melhor soube explorar o marketing a seu favor.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Moderar comentários é censurar?

Com o avanço das mídias digitais, a participação do leitor se tornou mais rápida e eficiente que em tempos de mídia impressa ou até mesmo eletrônica. No início da internet os comentários eram publicados quase que instantaneamente, com o passar dos tempos, percebeu-se a necessidade de uma triagem nos comentários, que passaram a ser encaminhados para o "tal" moderador.

Mesmo em rádio e televisão com participação ao vivo, não há tantos comentários como na internet, onde milhares de pessoas podem comentar ao mesmo tempo e em épocas diferentes, não apenas durante um determinado programa, como em rádio e tv. Vale lembrar que o leitor da internet pode fazer um comentário mesmo após meses e até anos da publicação, o que facilita a participação plural.

Na Europa
Há alguns meses, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos considerou que as grandes mídias são responsáveis, inclusive pelos comentários de seus usuários. Assim, por exemplo, se você quser fazer um comentário racista em uma matéria do jornal alemão Bild, o jornal não pode culpá-lo exclusivamente pelo o que você escreveu. O jornal também deve assumir sua culpa por autorizar a publicação do comentário.

Sob o argumento de que a liberdade de expressão não pode ser maior que a honra de um terceiro, o Tribunal tomou a decisão de tornar os sites responsáveis pelos comentários. Outro argumento usado é que é muito mais difícil localizar um usuário que os responsáveis pelo site, principalmente quando o site possibilita comentários por anônimos. Mesmo exigido um login, não é difícil alguém criar um fake (perfil com dados falsos), o que torna a busca pelo autor mais difícil.

Levando o assunto para lados mais polêmicos, há quem diga que tal decisão pode deixar os sites das grandes mídias europeias com um grau de censura ainda maior. O mesmo cuidado que um jornal tem ao publicar uma matéria, agora deve ter com o comentário que será publicado.


Os mesmos critérios de noticiabilidade agora precisam ser toamdos também com os comentários de seus leitores. O problema é que não se pode cobrar dos leitores os conhecimentos técnicos e éticos que se cobra de um profissional de comunicação.

Redes Sociais, Blogs, Fóruns...
Na teoria, na minha visão, o conceito está mais que certo, no entanto, na prática, isso deve ser melhor estudado e elaborado. O princípio cru de que a honra deve ser respeitado acima da libedade de expressão pode interferir em conteúdos e comentários feitos em blogs, fóruns e até redes sociais.

Imagine um site com fóruns ou um blog cheios de comentários como este (só que não kkk) sendo responsabilizado pelo conteúdo postado por terceiros. Se a moda de processos e julgamentos para sites, blogs e portais  pega, a tendência é que as empresas restrinjam cada vez mais a participação do internauta.

Os mais radicais podem alegar o contrário: tanta moderação não passa a ser um tipo de censura? Você proibir que leitores comentem uma notícia é viável, legal, ou moral. Há até quem diga que "o melhor das notícias são os comentários".

Não acho que isso (onda de processos de pessoas que se sentem prejudicadas contra sites) vá ocorrer, mas é uma questão interessante para pensar. Os sites devem se responsabilizar por conteúdo postados por terceiros? Até que ponto vai esta responsabilidade pelos comentários?

domingo, 19 de janeiro de 2014

Tancredo Neves mostra o poder do Marketing Político

A última eleição indireta do Brasil foi marcada pelo forte apelo popular do candidato Tancredo Neves. Mais uma vez, o marketing eleitoral mostrou seu poder de persuasão. Como as eleições ainda eram indiretas, e o regime militar estava em queda, Tancredo precisou fazer uma campanha que mobilizasse a população a pressionar o colégio eleitoral para o eleger. Que manobra!

Em outras palavras, Tancredo Neves sabia que se dependesse apenas do colégio eleitoral, que não era o povo na época, talvez ele não derrotasse seu rival Paulo Maluf. Tancredo tece que fazer um marketing para mobilizar a população e mostrar a força popular que ele tinha para que o colégio eleitoral o elegesse.

O marketing de Tancredo transformou a eleição indireta em um movimento popular. Ele fez sua campanha como se fosse uma eleição direta, com comícios, jingles e e tudo mais que as eleições modernas utilizam. Tancredo utilizou os meios eletrônicos, material de propaganda e todo seu arsenal publicitário para alcançar seu objetivo.

Para o presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos, Carlos Manhanelli, a eleição de Tancredo Neves foi um dos maiores exemplos de poder do marketing político.

Ações
O candidato captou apoio de artistas e personalidades ilustres para reforçar sua campanha. Além disso, usou o movimento "diretas já" a seu favor, com slogans do tipo "Muda Brasil - Tancredo Já" e "Para mudar, Tancredo Já".

Pela primeira vez, um candidato utilizou computadores para armazenar informações e dados importantes. Seu arquivo cotinha nomes, endereços e telefones que julgava importante guardar.

Tancredo contratou um pool de agências para que a Democracia fosse trabalhada. Ele atuava em vários programas de tv, participando de debates e entrevistas. Embora não tenha feito comerciais, sua presença nos canais de televisão era constante.

Um jogada inteligente foi direcionar sua campanha também às crianças. Ele usava bonecos e materiais como cartilhas focando as crianças. Para os adultos, cartazes, chaveiros, camisetas e outros materiais que podiam ser guardados e utilizados diversas vezes. Os jovens também era um público muito abordado em seus discursos.

Seu discurso era eloquente, mostrando conhecimento profundo sobre todos os assuntos que abordava. Um exemplo disso, era a utilização de pesquisas e divulgação de dados quando lhes eram favoráveis, como fazem os políticos até hoje, quando propagam coisas do tipo: "Fulano é candidato que mais cresce nas pesquisas", "Fulano é o número um em todas as pesquisas eleitorais". O marketing político utiliza com frequência este tipo de recurso.

Outra estratégia, em uso até hoje, era se pronunciar como presidente e não como candidato. Seu material sempre o divulgava como o presidente do Brasil e não como candidato. Além disso, reforçava sempre o seu ponto de vista como 'única opção', como "O" salvador da pátria.

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