Considero a faculdade um fator essencial para desenvolver a profissão, pois aprendemos a superar essas dificuldades nos trabalhos desenvolvidos. Os jornais murais, informativos e trabalhos práticos nos ensinam a conviver com a rotina do jornalista.
Você precisa também saber que, na verdade, a maioria das entrevistas são individuais, o que deixa o diálogo mais informal, mas fácil de levar. É só você e o entrevistado. Não precisa ser afoito. Relaxe e comece com um assunto mais informal, como o tempo, um café ou coisa assim. As entrevistas coletivas ou em situações mais tumultuadas são poucas, se comparada com aquelas que você agenda por telefone. Aliás, muitas, hoje em dia, são feitas por telefone ou e-mail.
Em primeiro lugar, não considero essa característica como negativa, muito pelo contrário. Dependendo da ocasião é um fator positivo. Mais tarde falo disso. O mais importante é você saber lidar com sua timidez e usá-la a seu favor. Falo por mim, que tenho um agravante, fico ‘vermelho’ com muita facilidade. Mas fui aprendendo a lidar com isso. Fazer apresentações, desde a época da escola, pensar em algo engraçado enquanto alguém fala sério ou ter que falar alto são situações rotineiras que me deixam ‘vermelho’. Aprendi a, em situações assim, relaxar, respirar devagar e falar pausadamente, para não falar besteiras. O resultado: nunca fiz perguntas taxadas de ‘idiotas’ ou confusas, pois a minha timidez sempre me impediu de falar sem pensar, o que é extremamente importante na profissão de jornalista. Já vi alguns colegas que falam pelos cotovelos, que não têm nada de tímido, fazerem perguntas ‘cretinas’, confusas e até que já haviam sido respondidas. Aí, você percebe que, normalmente, os afoitos é quem passam vergonha. Por isso, como falei, a timidez pode ser um ponto positivo, uma vez que ela te impede de falar sem pensar.
Pergunta inteligente não ofende
Outro exemplo que acho ridículo acontece em palestras e discursos, quando o jornalista pergunta algo que a pessoa já falou, ou sobre algo que já foi abordado na palestra. Acho perda de tempo, o entrevistado acaba saindo respondendo somente assuntos que ele já falou, portanto, sabia todas as respostas, e ninguém se atem a fazer perguntas que poderiam sanar dúvidas ou complementar uma informação. Mais uma vez, o jornalista que só faz perguntas por fazer, porque é ‘descontraído demais’ não faz um bom trabalho.
Além disso, com a prática, você vai aprendendo alguns ‘macetes’, como no caso acima de palestras e discursos. Se as informações passadas já são suficientes para o seu texto. Não há porque ficar na ‘nóia’ de ser obrigado a perguntar algo. No começo, achamos que somos obrigados a fazer perguntas porque somos jornalistas. Mas fui percebendo que dependendo do jornal onde trabalhamos, não adianta coletar informações desnecessárias. Podemos acompanhar as perguntas dos colegas, não é necessário ‘fabricar’ perguntas. Também já fui vítima disso no começo da profissão. No anseio de me sentir obrigado a fazer perguntas, fiz algumas muito tolas e desnecessárias, e percebi que estava fazendo papel de idiota. Era melhor ter ficado calado.
Não estou dizendo que você não deva fazer perguntas, mas só estou levantando a importância em pensar bem no que será perguntado, para não ‘colocar a carroça na frente dos burros’. Neste ponto a timidez é boa porque nos faz pensar bem antes de proferir uma pergunta inútil.
Ninguém é seu inimigo
Outra coisa que percebi com o tempo, é que existem jornalistas muito agressivos em suas perguntas. Fazem isso porque querem passar uma imagem de críticos ou incisivos, e acabam levando tudo para o lado pessoal, praticando um antijornalismo. Por exemplo, o jornalista que não gosta do prefeito (ou trabalha para jornal de oposição) só tem interesse em criticar e atacar o chefe do Executivo municipal. Não faz papel de jornalista e sim de oposição. É levado pela ‘lavagem cerebral’ dos proprietários do jornal. Isso é mais comum em cidades pequenas, onde os jornais são panfletos políticos. de qualquer forma, não seja levado a achar que fulano ou sicrano é seu inimigo. Ainda não vi jornalista ganhar destaque com atitudes assim.
Nunca tive a pretensão de fazer inimigos, bem como nunca fiz questão de fazer amigos com o jornalismo, mas posso me orgulhar de dizer que eu soube me desprender de ter que ser amigo ou inimigo, tenho que ser jornalista. E o que isso tem com o fato de ser tímido? Como nunca pensei em ser ‘o jornalista’ crítico e polêmico, sempre realizei minhas entrevistas com calma, pensando bem nas perguntas e em como fazê-las. Utilizando um tom de voz mais calmo e demonstrando que você não está levando para o lado pessoal, o entrevistado fica mais à vontade para responder sua pergunta.
Certa vez, em minha cidade, um caso polêmico ocorreu entre os vereadores. Na sessão seguinte, foi aquele frenesi, um monte de jornalista apontando os microfones, fazendo exigências e fazendo perguntas de forma agressiva. Resultado, todos os entrevistados saíram calado. Mais tarde, sozinho, fui em alguns gabinetes e explique quais informações eu precisava. Com calma, serenidade e educação. Para resumir, consegui tudo o que precisava. Aliás, não apenas neste episódio, mas nunca me foi negado uma entrevista, pois aquelas pessoas sabiam que eu não estava ali para ‘crucificar’ ninguém, apenas trabalhava.
Obstáculo não. Aliado
Para terminar, gostaria de ressaltar que a maioria dos profissionais que conheço são pessoas tímidas, ou pelo menos, não ‘fanfarrões’. Estes aliás, vivem dando ‘barrigada’ por quererem ser polêmicos.
Se você quer seguir na profissão vai perceber que a timidez não é um obstáculo, mas sim um aliado.
Se você, ainda assim, acha difícil ser jornalista tímido, saiba que existem várias funções para um jornalista. Você não precisa ser necessariamente um repórter de campo, embora seja, na minha opinião, um passo importante na profissão.